Em tempos de debate sobre pejotização e novas formas de contratação, um levantamento do Ipea, Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, revela um dado que chama a atenção. Trabalhadores informais no Brasil, por conta própria, sem CNPJ ou sem carteira assinada, em muitos casos, estão registrando rendimentos iguais ou até superiores aos trabalhadores formais.
A pesquisa indica que o rendimento médio dos trabalhadores informais cresceu 6,8% no segundo trimestre de 2025, em comparação com o mesmo período do ano passado. Entre os empregados com carteira assinada, o aumento foi de 2,3%. À primeira vista, isso parece positivo, mas na prática escancara um desequilíbrio profundo no mercado de trabalho e no próprio desenho das leis trabalhistas. Em boa parte dos casos, o trabalhador escolhe deliberadamente a informalidade.
Não por falta de opção, mas para fugir de um sistema caro, engessado e que impõe custos trabalhistas elevados, tanto para quem contrata quanto para quem é contratado. É um modelo que desestimula a formalização, especialmente em atividades mais dinâmicas, onde flexibilidade e autonomia são vistas como vantagem competitiva. O problema, portanto, não está apenas na escolha do trabalhador, mas na regra que o empurra para fora dela.
A informalidade continua alta: cerca de 38% dos trabalhadores ocupados estão nessa condição, segundo os mesmos dados. E mesmo com o aumento do emprego formal, boa parte da economia segue sustentada por vínculos precários, sem direitos e sem estabilidade. Em muitos casos, a renda do informal é maior justamente porque ele escapa de encargos pesados e de uma estrutura de regulação que já não reflete o mundo do trabalho atual.
Há ainda um outro fator que alimenta esse ciclo: o sistema de proteção social brasileiro. Com garantias universais de previdência, saúde e educação, o país criou uma espécie de efeito carona. O cidadão pode usufruir dos benefícios mínimos mesmo sem contribuir de forma direta. Isso reduz o incentivo à formalização e estimula ainda mais a busca por modelos alternativos de contratação, minando a sustentabilidade do sistema no longo prazo. Em economia, não existe alquimia.
Não há como sustentar um sistema no qual muitos se beneficiam, mas poucos contribuem. O resultado é um Estado sobrecarregado, empresas sufocadas por custos e um trabalhador que prefere a liberdade precária à segurança formal, porque o custo dessa segurança se tornou alto demais. O Brasil precisa de uma reforma trabalhista e previdenciária moderna que valorize o trabalho e simplifique as regras, sem punir quem quer empreender ou gerar emprego.
Só assim a formalização deixará de ser um fardo e passará a ser um caminho natural de prosperidade e cidadania.
