A política mineira está assistindo a um desmoronamento público, lento e humilhante. Um escândalo que começou com a Conafer, atravessou a CPMI do INSS e desembocou no centro do Republicanos em Minas Gerais, partido que, até outro dia, posava como paladino da ordem, disciplina e projeto. Agora, o que se vê é um terremoto.
No meio desse “imbróglio” político estão Euclydes Pettersen,deputado federal, que virou alvo direto de investigação, e o senador Cleitinho Azevedo, cuja força eleitoral parecia blindada. “Parecia”, porque o caso Conafer expôs não apenas o nome de Pettersen, mas também a fragilidade da arquitetura que sustentava Cleitinho. A dupla que se vende como rocha, pode virar um castelo de areia.
Parceria e unidade
Durante dois anos, venderam a imagem de unidade: Cleitinho no Senado, Pettersen no comando do Republicanos em Minas, e um projeto claro, eleger Cleitinho governador e Pettersen senador em 2026. A dobradinha era explícita, orgulhosa, performada. A PEC do IPVA foi o símbolo maior dessa parceria: Cleitinho autor, Pettersen relator. A coreografia perfeita para quem buscava construir hegemonia na direita mineira.Um verdadeiro espetáculo de populismo com a lógica do carro velho do povão
Mas política não admite ilusão por muito tempo. A Operação Sem Desconto cortou o fio com a precisão de um bisturi. A investigação da Polícia Federal escancarou suspeitas de fraudes no INSS envolvendo entidades ligadas à Conafer. E no centro dessa trama, aparece o nome de Pettersen, não por acaso, não por ruído, mas por vínculo político direto com estruturas que agora estão sob investigação pesada.
E como reagiu Cleitinho, o parceiro, o aliado, o homem que tanto exaltou a união dos dois? Reagiu como a política costuma reagir quando o cheiro de queimado chega perto demais: fugiu. Tomou distância em velocidade olímpica. Fez uma vistoria na sua biografia e concluiu que não há amizade que resista a uma busca e apreensão. Agora pede investigação. Exige apuração. E deixa claro que não dividiria desgaste com ninguém, nem mesmo com o aliado que ajudou a projetar.
A verdade é que essa aliança está agonizando.
Não por desgaste natural. Não por divergência ideológica. Mas porque a política, quando pressionada pelas revelações incômodas, mostra seu lado mais instintivo, o da sobrevivência individual.
Para ser justo, Cleitinho não está sendo investigado. Não há, até agora, evidência de participação direta dele com a Conafer. Mas há algo mais poderoso do que evidência: o dano colateral. E esse dano é suficiente para desfigurar o projeto que o Republicanos havia desenhado com tanto zelo.
O partido, que sonhava governar Minas em bloco, agora cambaleia. A crise de Pettersen implode o planejamento. A ausência de Cleitinho fragiliza a narrativa.
A CPMI do INSS continua cavando, a Conafer continua sob suspeita, e o nome de Pettersen continua no lugar onde nenhum político quer estar: no parágrafo errado, no depoimento errado, no capítulo errado.
E quanto a Cleitinho? Sai ileso? Não. Sai menor.
Porque a política é cruel com quem foge, e, ao mesmo tempo, é impiedosa com quem tenta ser fiel até o fim. A escolha dele foi clara: preservar a própria imagem e abandonar a aliança que construiu. É pragmatismo puro. Mas é também a confissão silenciosa de que a dupla nunca foi tão sólida quanto diziam.
No fim, sobra apenas o retrato duro de um projeto que implodiu. Pettersen queimado; Cleitinho exposto; e o Republicanos desorientado.
A política costuma ser cruel com quem na dificuldade bate em retirada.
