Pesquisadores da Escola de Veterinária da UFMG investigam como um tipo específico de salmonela, muito presente em bovinos, pode chegar até as pessoas. A pesquisa começou há oito anos, quando o Laboratório de Anaeróbios (Laev) notou que várias amostras de animais tinham a bactéria Salmonella enterica sorovar Dublin, responsável por uma forma grave de salmonelose, que mata metade dos animais que desenvolvem sintomas.
O grupo, coordenado pelo professor Rodrigo Otávio Silveira Silva, decidiu então estudar melhor as fazendas onde havia mais casos da infecção. A investigação se tornou ainda mais urgente porque essa bactéria, de alguma forma ainda desconhecida, também pode infectar humanos.
Segundo o professor, essa é uma das formas mais letais de salmonelose para os animais, além de mostrar resistência a antibióticos usados tanto em humanos quanto em bovinos. Ao comparar amostras de bovinos com amostras de pessoas infectadas, os pesquisadores encontraram alta semelhança genética entre as bactérias, um forte indício de transmissão entre animais e humanos.
A principal suspeita é que isso aconteça por meio de alimentos de origem animal, como leite e carne. Por isso, o pesquisador alerta para a importância de consumir carne bem cozida e leite pasteurizado. Carnes mal passadas (como carpaccio) e queijos feitos com leite cru aumentam o risco de contaminação.
Como a bactéria age nos bovinos
A Salmonella Dublin vive no intestino dos bovinos e, na maioria das vezes, não causa sintomas. Mas, em algumas situações ainda desconhecidas, ela se multiplica demais, sai do intestino e chega a outros órgãos, provocando infecções graves. Em média, metade dos animais que desenvolvem a doença morre.
O principal modo de espalhamento é a compra de animais já contaminados. Uma dificuldade é que nem sempre a bactéria aparece nos exames, mesmo quando o bovino está infectado. Por isso, os pesquisadores querem desenvolver métodos de diagnóstico mais eficientes, usando sangue ou fezes.
Outra etapa do estudo é entender como a doença passa de vacas para bezerros, especialmente logo após o nascimento, possivelmente durante as primeiras mamadas. A equipe espera que esse conhecimento ajude a criar estratégias para reduzir a transmissão dentro das fazendas.
O estudo será publicado em breve na revista Microbiol Spectrum. Também participam da pesquisa a mestranda Isabela Zanon, da UFMG, e as pesquisadoras Erika Ganda e Sophia Kenney, da PennState University.
Com UFMG
