PUBLICIDADE
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Ainda sobre Terras Raras. A burocracia cega, que insiste em atrapalhar

Siga no

Terras raras são essenciais para turbinas eólicas, motores elétricos, veículos híbridos, armazenagem de energia, semicondutores, equipamentos militares, e sistemas de alta precisão (Foto: Gil Leonardi/Agência Minas).

Compartilhar matéria

Minas Gerais está novamente diante de um momento que separa os Estados que esperam daqueles que agem. As montanhas que já sustentaram ouro, ferro, lítio e nióbio agora revelam um tesouro mais estratégico: as terras raras, a base invisível da transição energética global. E essa história começa em dois lugares específicos: Caldas e Poços de Caldas.

Não estamos falando de fantasias geológicas ou promessas vazias. Falamos de projetos reais, apoiados em geologia comprovada, estudos robustos e uma premissa simples: Minas pode ser protagonista da cadeia global de tecnologia limpa.

As iniciativas que hoje estão paradas no COPAM têm características centrais:

Ficam no Alto do Planalto de Poços de Caldas, um dos complexos alcalinos mais estudados do planeta, geologia perfeita para minerais críticos como neodímio (Nd), praseodímio (Pr), térbio (Tb) e disprósio (Dy).
Os empreendimentos ainda estão no estágio de Licença Prévia, isso significa que não se está discutindo ainda a operação, não se está instalando mina, não se está alterando território, e não se está extraindo nada.
A Licença Prévia serve apenas para autorizar que os projetos avancem para fases mais profundas de estudo. É o “pode seguir investigando”, e mesmo assim travou.

Os projetos foram estruturados sobre premissas modernas: mineração de baixo volume e alto valor, foco em mineração limpa, com menos rejeitos, processos de beneficiamento fechados e controlados, rejeitos projetados para estabilidade química, foco na redução do impacto hídrico, e compromisso com verticalização industrial (não apenas exportar concentrado), conforme comentamos na coluna anterior.

São premissas alinhadas às melhores práticas internacionais. Mesmo assim, ficaram parados na porta do COPAM, e isso exige reflexão.

Com os Estudos de Impactos ambientais entregues, audiências realizadas e documentação técnica analisada, os projetos entraram na pauta do COPAM para análise da Licença Prévia. Não era para aprovação final, mas para permitir que o processo avançasse com novas exigências, novos estudos, novos condicionantes.
E aí… foram retirados.

Simplesmente retirados, Não houve deliberação, sem voto, sem transparência. Essa retirada, que não é jurídica, não é técnica e não é ambiental. Ela pode atrasar os projetos por meses, talvez anos. E em um setor guiado por inovação, geopolítica e corrida global, atraso é derrota. O mundo inteiro quer diversificar suas fontes fora da China. O Brasil aparece no radar como fornecedor confiável, e Minas perde tempo no semáforo.
É isso que está em jogo.

As premissas que sustentam os empreendimentos vão além da mineração. Elas se articulam com Verticalização industrial Os projetos foram concebidos não apenas para extrair, mas para refinar, purificar e produzir compostos de alto valor agregado.

E o que isso significa?

Tecnologia, empregos qualificados, pesquisa aplicada, atração de fornecedores, e retenção de renda local. Atributos necessários para um Brasil que se pretende desenvolvimentista. Terras raras são essenciais para turbinas eólicas, motores elétricos, veículos híbridos, armazenagem de energia, semicondutores, equipamentos militares, e sistemas de alta precisão. Quem produz esses minerais participa da geopolítica do século XXI.

Os projetos apresentados incluem planos de qualificação profissional, infraestrutura, compras locais, fortalecimento de fornecedores, e programas de formação técnica nas cidades afetadas. Isso significa que as cidades de Caldas e Poços de Caldas não seriam apenas “locais de mina”, mas polos industriais de tecnologia limpa.

A transição energética não existe sem minerar, e sem esses minerais não existe energia limpa. Sem os minerais críticos, não existe eólica eficiente, carro elétrico acessível, eletrificação da mobilidade, motor de alto rendimento, e inovação energética.

Isso precisa entrar no debate público com honestidade pois transição energética não cai do céu. Ela sai do chão, e precisa ser feita de forma responsável.

E aqui está o ponto central: o problema não é minerar. O problema é como minerar. Minas tem condições de minerar melhor que qualquer país emergente, com ciência, tecnologia, monitoramento e rigor institucional.
Há anos o país vive preso entre dois medos: o da destruição ambiental, e o da paralisia regulatória. Mas o verdadeiro risco não é licenciar rápido ou devagar. É não licenciar, é ficar num limbo que não protege o meio ambiente nem promove desenvolvimento.

Enquanto o mundo debate “permitting reform”, o Brasil discute slogans. E perde tempo.
Os projetos de terras raras de Caldas e Poços de Caldas têm premissas sólidas, têm respaldo técnico, têm potencial industrial, têm relevância geopolítica, têm capacidade de gerar empregos, renda e tecnologiae são essenciais para a transição energética. O que eles não têm é tempo a perder.

A retirada da pauta do COPAM não é um detalhe administrativo, é uma decisão política que atrasa empregos, inovação e desenvolvimento.

Minas tem tudo para ser protagonista da nova economia energética, mas precisa evitar o pior dos cenários. O do futuro pronto, e o do Estado parado. O mundo está correndo. O Brasil está precisando, e Minas está preparada.
Só falta o que nos falta há décadas: decidir.

Compartilhar matéria

Siga no

Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

Webstories

Mais de Entretenimento

Mais de 98 News

A síndrome do ‘eu também’ no empreendedorismo brasileiro

O peso da saúde no orçamento das famílias

Por que a vacina do Butantan contra a dengue é um avanço

Guarapari passa a cobrar taxa de excursões

O papel da liderança na comunicação de crise

Por que o PIB per capita do Brasil segue estagnado

Últimas notícias

Levantamento da UFMG atualiza as chances de rebaixamento de cada equipe no Brasileirão

Netflix oficializa compra da Warner Bros. e HBO por US$ 82,7 bilhões

Zema diz que governadores de direita estão alinhados para 2026 e reafirma que levará candidatura ‘até o final’

Entrevista exclusiva: Zema diz que privatização da Copasa vai garantir tarifas abaixo da inflação

Seu filho foge do chuveiro? 5 passos para acabar com a guerra na hora do banho

Copasa, CPMI do INSS e eleições: confira a entrevista exclusiva com o governador Romeu Zema

EXCLUSIVO: Zema diz que convocação para CPMI do INSS é ‘perseguição política’

Sorteio da fase de grupos da Copa do Mundo: saiba horário e onde assistir

Netflix vence leilão pela Warner Bros: entenda o negócio, valores e o futuro da HBO e Harry Potter