O número de empresas inadimplentes em Minas Gerais atingiu um índice recorde: segundo a Serasa Experian, 28% dos negócios do estado estavam negativados em maio, o maior percentual já registrado. O dado acende um alerta em meio a um cenário nacional de juros altos, consumo retraído e economia desacelerando.
Para entender melhor esse panorama e apontar caminhos para os empreendedores enfrentarem a crise, a 98 News conversou com a economista da Serasa Experian, Camila Abdelmalak.
Segundo ela, o principal fator por trás da inadimplência empresarial é a taxa básica de juros, a Selic, mantida em um patamar elevado — 15% ao ano — pelo Banco Central.
“A Selic elevada atrapalha diretamente a vida do empreendedor, especialmente o micro e pequeno, que já tem mais dificuldade de acessar crédito. Com juros altos e uma economia em desaceleração, o consumo cai, a receita das empresas diminui e o custo da dívida aumenta”, explica Camila.
Micro e pequenas empresas são as mais afetadas
Dos 7,7 milhões de negócios inadimplentes no Brasil, 7,3 milhões são micro e pequenas empresas. Para Camila, isso mostra como esse público está especialmente vulnerável.
“Essas empresas têm menos garantias para oferecer e enfrentam mais barreiras para conseguir crédito. Com as instituições financeiras mais cautelosas, esse cenário restritivo tende a se agravar”, alerta a economista.
Segundo ela, a alta da inadimplência tem levado os bancos a reduzirem as concessões de crédito, o que gera um ciclo preocupante: menos crédito → menos fôlego financeiro → mais inadimplência.
Grandes empresas também sofrem com os juros altos
Embora as micro e pequenas estejam na linha de frente da crise, as empresas de médio e grande porte também sentem os efeitos da Selic. Muitas delas se alavancaram em anos anteriores, emitindo dívidas atreladas à taxa de juros.
“Com o CDI e a Selic nesse nível, o custo para pagar essas dívidas disparou. A estimativa de crescimento do PIB para 2025 é de apenas 2%, abaixo da média histórica. Ou seja, mesmo as grandes vão sentir”, afirma Camila.
E agora? O que os empreendedores podem fazer?
Diante desse cenário desafiador — que ainda pode piorar com a tarifação sobre exportações brasileiras pelos EUA e decisões do STF que encarecem ainda mais o crédito — Camila destaca a importância do planejamento e, principalmente, do gerenciamento financeiro diário.
“Não basta ter um plano no Excel. É preciso acompanhar, ajustar e tomar decisões com base nos números reais do negócio. Enxugar custos, entender o fluxo de caixa e buscar ajuda especializada são passos fundamentais”, orienta.
Ela reforça que existem ferramentas e plataformas gratuitas de apoio, como o Sebrae e o próprio hub de conhecimento da Serasa Experian, que podem ajudar empreendedores a lidar melhor com esse momento.
“É hora de olhar para dentro da empresa. Quem conseguir atravessar esse período com estratégia e controle estará mais forte lá na frente.”
Camila Abdelmalak, economista da Serasa Experian, encerrou a entrevista com um recado direto: é preciso se preparar para um segundo semestre de incertezas e agir com cautela, mas também com inteligência. A crise não dá trégua, mas pode ser enfrentada com informação e gestão.