As pessoas que vivem em Belo Horizonte e os motoristas que passam pela cidade estão tendo que enfrentar, diariamente, congestionamentos quilométricos. As filas são piores no Centro, onde o fluxo de veículos é maior do que antes da pandemia de Covid-19. Dados da BHTrans, com base em radares instalados no município, mostram uma alta de 7,1% no fluxo de carros, ônibus e motocicletas, nas vias do hipercentro, em comparação com os últimos três anos. O fluxo atual de veículos é de 299 mil em dias úteis.
Antes da pandemia de Covid-19, o fluxo diário de veículos na área central de Belo Horizonte era, em média, 279 mil por dia útil. Em 2021, mesmo com a diminuição do número de ônibus em circulação na cidade, a média no fluxo de automóveis diários na região subiu para 284 mil. Os dados foram divulgados pela prefeitura.
Especialistas apontam alguns fatores para os congestionamentos. Entre elas, o aumento da frota de veículos na cidade. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que, de 2019 até 2021, Belo Horizonte teve alta de 4,4% no número de carros, ônibus, motos e caminhões. Chegou a 2,3 milhões de veículos no município.
A mudança cultural da população tem abandonado o transporte coletivo nos últimos anos é também uma das causas para o aumento das filas nas vias da cidade. A perda, nos últimos dois anos, segundo dados da Superintendência de Mobilidade Urbana (Sumob), é de aproximadamente 251 mil passageiros por dia. Especialistas apontam que boa parte deste público migrou para os veículos menores, como carros e motos.
“Quando a gente pega o espaço urbano e coloca um maior número de pessoas circulando no sistema individual (carros, motos, entre outros), teremos um maior consumo no espaço físico por viagem. Quando temos 45 a 50 pessoas em uma viagem, acaba que tem uma economia no uso do espaço público por carregar um maior número de passageiros. Então, isso aumenta o congestionamento”, comentou o arquiteto e urbanista Ségio Myssior.
Falta de investimento
O urbanista aponta a falta de investimento como um dos fatores para a debandada dos passageiros do transporte público da cidade. Para ele, faltam integração com a região metropolitana e medidas para aumentar o tempo de viagem. “Enquanto não houver ações políticas e investimentos para priorizar o transporte coletivo em detrimento o individual, esse processo tende a intensificar. Ou seja, o processo de perda de demanda do transporte coletivo. Por isso é importante os sistemas dos BRTs, mas é fundamental que os outros eixos metropolitanos também invistam nestes sistemas”, comentou.
“Além disso, os eixos de médio porte, que são grandes vias e avenidas, também devem receber investimentos para, no mínimo, ter faixas exclusivas. Assim, o transporte começa a se destacar em relação ao tempo”, completou Myssior.
Rodízio seria viável?
Para o urbanista, o rodízio só seria uma solução viável se o transporte público fosse eficiente. “Ao meu ver, o rodízio é uma das estratégias e tem uma aplicação mais específica em cidades onde temos uma boa alternativa do transporte coletivo. Então, não me parece adequado a gente condicionar a utilização de automóveis e motocicletas por meio de um rodízio, fazendo com que pessoas migrem de forma mandatória para o transporte coletivo, sem que hoje o transporte coletivo seja uma prioridade dentro da nossa política”, explicou.