A implementação da gratuidade nos ônibus de Belo Horizonte aos domingos e feriados exige um planejamento técnico rigoroso. O alerta é do professor da UFMG, urbanista e membro do movimento Tarifa Zero, Roberto Andrés. O especialista aponta que a medida, embora positiva, pressiona o sistema de transporte e exige aumento imediato na oferta de veículos.
Aumento da demanda e experiência nacional
Andrés destaca que a simples isenção da tarifa sem reforço na frota pode gerar colapso no atendimento. Ele cita exemplos de outras capitais onde a gratuidade atraiu milhares de novos passageiros.
“Você precisa aumentar a oferta no domingo. A oferta de ônibus não pode ser igual a que tem hoje, porque vai ter mais demanda. A gente viu em Brasília, por exemplo, a demanda cresceu 60%. Em São Paulo cresceu 40% a 50%. Você tem que ter mais ônibus circulando, não adianta ser tarifa zero e o ônibus não passar.”
Qualidade do serviço
Para o professor, a prefeitura falhou em não detalhar como atenderá esse novo fluxo de usuários. O risco é que a espera nos pontos inviabilize o deslocamento da população.
“A população quer poder chegar nos lugares, não quer ficar esperando duas horas no ponto. Então isso também a prefeitura não detalhou. Como que ela vai atender adequadamente a população com essa oferta gratuita no domingo, que é muito importante, muito importante que seja feito, mas que seja feito com qualidade.”
Impacto no orçamento municipal
O custo estimado da medida é de R$ 45 milhões anuais. Roberto Andrés avalia que o valor é compatível com o caixa da cidade, mas critica a falta de clareza sobre a fonte dos recursos.
“Não é um valor tão alto, 45 milhões por ano para um orçamento de 20 bilhões, não é algo tão significativo, mas que precisa sim ter uma origem de recurso. Não dá para ficar cortando da saúde e da educação como a prefeitura tem feito.”
Risco de aumento da passagem
O especialista também rechaçou qualquer possibilidade de reajuste na tarifa regular para compensar custos. Segundo ele, Belo Horizonte já possui a terceira passagem mais cara entre as capitais, o que empurra o usuário para o transporte individual.
“Acho que a gente não tem condição de aumentar a tarifa. Inclusive, porque aumentar a tarifa expulsa mais ainda uma parte da população do transporte. Hoje muita gente já faz a conta e paga um pouco mais no Uber moto para chegar mais rápido. Então, a gente teria que estar diminuindo a tarifa.”
