Você já deve ter escutado por aí o provérbio popular que diz que “o trabalho dignifica o homem”. Em linhas gerais, ele atribui ao trabalho um valor inegociável, algo que deve ocupar o centro da vida das pessoas. O que você pode não saber é que esse pensamento foi difundido no Brasil na década de 1930, durante o governo de Getúlio Vargas. Naquela época, enquanto no mundo todo se celebrava o Dia do Trabalhador, no Brasil, a data ficou instituída como Dia do Trabalho.
Em conversa com a Rede 98, o professor de história Raul Lanari explicou que essa diferença de nomenclatura estava longe de ser apenas gramatical. Ela simbolizou uma estratégia política para tirar o protagonismo dos trabalhadores e atribuí-lo ao próprio governo.
O dia 1º de maio foi eleito como o Dia Internacional do Trabalhador por causa de uma greve operária ocorrida nos Estados Unidos no século 19 durante o processo da Revolução Industrial. Naquele contexto, os trabalhadores reivindicavam melhores salários e jornadas de trabalho de 8 horas diárias com intervalos para descanso e alimentação.
No Brasil, porém, o feriado tinha pouca aderência, já que o movimento operário nacional era criminalizado por estar atrelado ao movimento anarquista. Foi então que Getúlio Vargas ressignificou o 1º de maio, mudando o nome da data para Dia do Trabalho.
“Essa é uma mudança substancial e muito importante, porque quando a comemoração passa a ser pelo trabalho e não pelo trabalhador, o protagonismo das pessoas que lutam por melhores condições de trabalho e melhores salários é completamente apagado em prol de um valor, que é o valor do trabalho. E esse valor foi utilizado especialmente no governo do Vargas com um viés conservador, ou seja, o trabalho como valor que legitimaria as pessoas a terem direitos”, explicou o professor.
Naquela época, conforme explica Raul Lanari, no dia 1º de maio começaram a ocorrer no Brasil desfiles oficiais que glorificavam o governo Vargas. A data só foi retomada pelos trabalhadores e voltou a ser conhecida como Dia do Trabalhador após a Ditadura Militar, no contexto de redemocratização brasileira.
“A influência varguista nessa configuração do Dia do Trabalho foi importantíssima e só com a constituição de 1988 e com a volta da pluralidade sindical que a comemoração voltou a ser investida no seu sentido de luta, das reivindicações, das campanhas salariais, que é o que a gente vê hoje em dia”, finalizou o professor.