Gravado inteiramente em Uberaba, no Triângulo Mineiro, o curta-metragem “Cabeça de Boi” é o único filme mineiro selecionado para a Mostra Competitiva do 53º Festival de Cinema de Gramado, um dos mais tradicionais do país. Dirigido por Lucas Zacarias, o filme já foi exibido no Centro Cultural SESI Minas Uberaba e concorre ao Kikito em 10 categorias, incluindo Direção de Arte, assinada por Michael Silveira.
“O ‘Cabeça de Boi’ é um documentário de ficção. A premissa do filme é contar a história de Uberaba. A gente começa com um espírito que vai reencarnar na cidade e, nesse meio-tempo, ele tem sonhos com pessoas com cabeça de boi”, explica Michael em entrevista na 98 News nesta terça-feira (5/8). “Ele descobre que vai reencarnar em uma cidade que se guia por três pilares: os fósseis, o espiritismo e o gado”, conta.
O filme mergulha na identidade cultural de Uberaba, cidade conhecida pelo Geoparque de fósseis de dinossauros, por ter abrigado Chico Xavier e por sediar a Expozebu, que movimenta o mercado do gado Nelore, considerado o mais valorizado do mundo.
“O personagem chega a um terreno na Praça Rui Barbosa, no centro da cidade, que nunca foi construído. Ali, segundo a lenda, uma família morreu de tuberculose e uma cabeça de boi foi enterrada. E a crença diz que onde uma cabeça de boi é enterrada, nada prospera”, contou o diretor de arte.
Máscaras realistas em cena
As cabeças de boi, que chamam a atenção no filme, foram confeccionadas com impressão 3D e pintura manual para transmitir realismo. “O Lucas me chamou e disse: ‘O grande elemento do filme é a cabeça de boi’. A gente pesquisou várias referências, mas queria algo realista, que parecesse ter sido desenterrado. Foram três meses de pesquisa, testes com materiais e pintura. O fogo ajudou a criar esse aspecto envelhecido. Além disso, pensamos no conforto e na segurança dos bailarinos que usaram as máscaras nas performances”, detalhou Michael.
A narrativa também explora a espiritualidade e o misticismo de Uberaba, com uma narração em francês feita por inteligência artificial, reforçando o tom fantástico da produção.
“A ideia do filme é falar da cidade do interior e desse apagamento histórico que vai acontecendo ao longo do tempo. O boi se preserva como imagem central, enquanto outros elementos culturais e afetivos vão se perdendo”, afirmou.
Representatividade mineira e expectativa
O curta já percorreu outros festivais menores e estreia em Gramado como representante único de Minas na mostra competitiva, selecionado entre 1.080 inscritos.
“A gente ficou muito feliz. O filme é 100% uberabense, feito com lei Paulo Gustavo e equipe local. Até cogitamos fazer algumas impressões fora, mas priorizamos que tudo fosse produzido em Minas”, destacou Michael.
A equipe concorre em dez categorias e acompanhará a premiação, no dia 22 de agosto, com transmissão ao vivo pelo Canal Brasil e pelo YouTube do festival. Para o público mineiro, há a expectativa de futuras exibições em Belo Horizonte.