O preço do frete marítimo internacional disparou nos últimos meses e já começa a pesar no bolso de quem importa e exporta em Minas Gerais. Só na rota entre Ásia e Brasil, o custo de um container passou de 950 dólares em abril para mais de 5 mil dólares em junho. O motivo é uma combinação de guerra comercial, retomada da demanda global e instabilidade geopolítica.
A analista de negócios internacionais da Fiemg (Federação das Indústrias de Minas Gerais), Verônica Winter, explica que o impacto é ainda mais significativo para pequenas e médias empresas, que possuem menor margem de manobra.
“O valor do frete depende diretamente da oferta e da demanda. Com o anúncio de uma trégua na guerra tarifária entre Estados Unidos e China, em maio, as empresas que estavam represando exportações e importações correram para aproveitar o momento. A demanda explodiu e o preço do frete acompanhou”, diz.
Riscos globais e impactos locais
Além da guerra comercial, o cenário internacional segue marcado pela instabilidade no Oriente Médio, com a ameaça de fechamento do Estreito de Ormuz — rota estratégica para o transporte de petróleo.
Apesar de Minas Gerais não ter grande volume de exportações diretamente para a região em conflito, o efeito é sentido no preço dos combustíveis e, consequentemente, nos custos logísticos.
“O preço do petróleo é muito volátil. Só o anúncio de que poderia haver um fechamento da rota já fez o barril disparar. Isso impacta o valor dos fretes marítimos em todo o mundo”, afirma Verônica.
Segundo ela, os efeitos sobre as exportações mineiras ainda são indiretos, mas o custo logístico, somado ao aumento do seguro de cargas em regiões de conflito, já pressiona o setor.
Planejamento e alternativas
Diante do cenário, a orientação para empresários é clara: planejamento logístico e diversificação de mercados. “Empresas precisam estar atualizadas, entender o mercado internacional e buscar alternativas”, reforça a analista.
Verônica cita o uso de fretes cooperativos — prática em que pequenas empresas compartilham o mesmo container para reduzir custos — como uma das estratégias recomendadas.
Outra possibilidade é buscar parceiros comerciais mais próximos, que permitam o uso do transporte rodoviário ou aéreo, dependendo do tipo de mercadoria. “Em alguns casos, faz mais sentido apostar em rotas alternativas do que insistir nas rotas tradicionais, que estão sobrecarregadas e com custo elevado”, pontua.
Seguro mais caro
Além do frete, o seguro das cargas também ficou mais caro. Em regiões com risco de conflito, o valor do seguro já chega a quase 1% do valor total da carga, quando antes ficava em torno de 0,2%. “O empresário precisa colocar esse custo na ponta do lápis, especialmente para exportações que passam por rotas mais instáveis”, orienta Verônica.
A Fiemg oferece estudos de mercado e consultorias para ajudar as empresas, especialmente as de pequeno e médio porte, a se prepararem para o comércio exterior diante de um cenário cada vez mais imprevisível.
“É preciso se antecipar às mudanças e estar pronto para se adaptar. O cenário global mudou e o empresário mineiro precisa acompanhar esse movimento”, conclui a especialista.