A Comissão de Mobilidade Urbana, Indústria, Comércio e Serviços da Câmara Municipal de Belo Horizonte debate nesta quinta-feira (24/7) a ausência de ônibus durante o período noturno na capital mineira.
Para a vereadora Marcela Trópia (Novo), uma das proponentes da audiência pública, a interrupção das linhas após determinado horário afeta diretamente a rotina dos trabalhadores, prejudica bares e restaurantes e contribui para esvaziar a vida noturna da cidade.
Marcela comentou o assunto em entrevista à 98 News nesta quinta-feira (24/7). “Desde que os ônibus pararam de circular no período noturno, e essa mudança aconteceu durante a pandemia, a retomada do comércio foi muito mais sofrida”, disse.
“O comércio noturno como bares, restaurantes, os trabalhadores de cinemas, dos shoppings, as pessoas que querem eventualmente sair para ir para um restaurante, para um boteco e não querem ir de carro porque é o correto, vão beber nesses lugares, elas começaram a reclamar nas redes sociais, quanto de maneira organizada através dos segmentos também.”
Segundo a vereadora, empreendedores têm relatado prejuízos com transporte alternativo para garantir o retorno dos funcionários após o expediente. Ela cita o caso de um restaurante na Pampulha que chega a gastar R$ 15 mil por mês em transporte por aplicativo.
“Onze horas da noite, meia-noite, o ônibus já passa de hora em hora. E aí se você atrasa 5 minutos para fechar o restaurante, seu funcionário perde aquele ônibus e não consegue voltar para casa. Se a gente for pensar no funcionário que mora na região metropolitana, aí que a integração não tem a menor lógica, porque esse ônibus de 1 em 1 hora também não bate com os horários do metropolitano. Isso acaba fazendo com que a cidade feche mais cedo.”
Marcela defende que o comércio aberto promove e auxilia na segurança da população, o que leva mais pessoas às ruas. “A gente mata um comércio que é pujante na nossa cidade e que ajuda a trazer esse movimento, que inclusive ajuda na prevenção e promoção da segurança”, afirma.
“Quando a gente tem mais gente na rua, a gente tem menos coisa errada acontecendo. Se todo mundo fica preso dentro de casa, não tem lazer, não tem uma atividade ou até não tem um emprego, como que a gente traz esse tipo de vida noturna para cidade? A gente fica com essa coisa monótona e perigosa. Quase que um Walking Dead à noite quando você sai nas ruas em Belo Horizonte.”
Diagnóstico e proposta
A vereadora elogiou a pesquisa em andamento da Prefeitura de Belo Horizonte para mapear a demanda por transporte coletivo noturno e defendeu que o planejamento do sistema seja baseado em dados reais de deslocamento.
“Esse diagnóstico é fundamental para a população ter mais clareza e mais transparência de como o transporte precisa funcionar. A prefeitura não pode tomar uma decisão em relação ao contrato sem ter essas informações. Essa pesquisa não é só sobre o transporte noturno, ela vai ser sobre toda a cidade. É a famosa pesquisa origem-destino.”
“Se a prefeitura tiver uma clareza maior de quais são as zonas mais demandadas – por exemplo, a Savassi, que eu já tenho aqui um palpite que é muito demandada – a região do entorno das universidades, UniBH, UFMG, Newton Paiva… Essas universidades têm aula que termina à noite, 10:30, quase 11 horas. Até que a pessoa sai da sala e tudo… Quando a gente tem essa noção de onde são os deslocamentos e para onde essas pessoas vão, é possível redimensionar melhor as linhas da cidade.”
Marcela também defendeu o uso do transporte suplementar e linhas menores como alternativa emergencial para atender os deslocamentos durante a madrugada.
“Por que a gente não pode ter uma linha noturna? Por que a gente não pode levar os suplementares até as estações de metrô, por exemplo, as estações do Move? Porque aí você deságua as pessoas para os principais corredores da cidade. Pode ter micro-ônibus, linhas menores para atender esses deslocamentos mais tradicionais. Então sai da Savassi e leva até a estação central de metrô. Você já resolve metade do desafio da mobilidade.”
Voltar ao que já funcionava
Para a vereadora, mesmo antes de discutir um novo contrato de concessão, o mínimo seria restabelecer o funcionamento das linhas noturnas tal como eram antes da pandemia.
“O bom é inimigo do ótimo. Enquanto a gente não consegue revisar o contrato para ter esse deslocamento de acordo com a vida noturna da cidade, a gente pode só voltar ao que era antes da pandemia. Que já atendia de forma satisfatória esses polos. A Pampulha, por exemplo, já tem pouca opção. Agora a gente tem visto alguns restaurantes sucumbirem ali no entorno do Mineirão e mesmo assim não tem ônibus.”
“Nós estamos falando de uma região que está afastada do centro e não tem ônibus para as pessoas que trabalham ali voltarem para suas casas. Muito menos para as que moram na região metropolitana.”