O sistema de doação e transplante de órgãos em Minas Gerais vai passar por uma grande reformulação nos próximos anos. O estado acaba de lançar um plano estadual que pretende organizar e ampliar todo o processo de captação, acesso e transplante até 2029. A proposta foi anunciada durante o encontro do MG Transplantes e deve impactar diretamente a vida de mais de 8 mil pessoas que atualmente aguardam por um órgão no estado.
De acordo com Omar Lopes Cansado, diretor do MG Transplantes, o objetivo é ambicioso: “Queremos ampliar o número de doadores, reduzir a fila de espera e garantir que mais pessoas tenham acesso ao transplante, especialmente nas regiões do interior.”
O plano foi elaborado em conjunto com diversos órgãos, como a Secretaria Estadual de Saúde, o Conselho Estadual de Saúde e secretarias municipais. “Queremos dar maior visibilidade ao tema, levar informação à população e também capacitar os profissionais de saúde para que saibam como identificar um potencial doador”, explica.
Hoje, uma das principais barreiras para o aumento nas doações é a falta de informação. “Cerca de 45% das famílias recusam a doação quando são abordadas, muitas vezes por puro desconhecimento”, afirma o diretor. Entre os tabus mais comuns está o medo de que o diagnóstico de morte não seja confiável. “É um processo rigoroso, com confirmação de médicos diferentes e exames complementares. Só após essa confirmação é que a família é consultada.”
Outro ponto importante do plano é a expansão das comissões inter-hospitalares de doação, que atuam dentro dos hospitais para identificar potenciais doadores. “Queremos que todos os hospitais de maior porte tenham essa comissão, o que vai facilitar a notificação à central e agilizar os procedimentos”, afirma Omar.
Além disso, o plano também quer melhorar o acesso da população aos serviços de transplante, especialmente em regiões mais distantes e com menor infraestrutura. “Há áreas em que nem conseguimos fazer o diagnóstico, o que inviabiliza qualquer chance de doação’, diz.
Cansado reforça que a mobilização de toda a sociedade é fundamental. “Transplante é vida. Precisamos falar mais sobre isso, tirar dúvidas e incentivar as conversas dentro das famílias. Hoje, temos mais chance de precisar de um órgão do que de sermos doadores. E só conseguimos mudar esse cenário com informação e solidariedade”, conclui.