O presidente da Fiemg (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais), Flávio Roscoe, afirmou que o Brasil está comprometendo sua atratividade para investidores estrangeiros ao manter um ambiente instável em relação aos incentivos fiscais. Em entrevista na 98 News, nesta terça-feira (15/7), ele destacou que empresários japoneses têm demonstrado preocupação com as frequentes alterações nas regras do jogo.
“A gente investe lá com uma regra. Aí vocês ficam mudando a regra o tempo inteiro. Para nós, isso é risco”, disse Roscoe. A declaração foi dada após missão internacional da Fiemg ao Japão, que reuniu mais de 250 empresários. Roscoe ressaltou que, apesar dos anúncios de investimento feitos durante a viagem, a maior parte dos projetos já estava prevista — e não nasceu da missão em si.
“Tudo aquilo que foi anunciado em investimento já estava no pipeline. Nós plantamos anúncios futuros, com relações bilaterais e aprofundamento de parcerias.”
Carga alta, serviços ruins
Roscoe criticou o discurso de que os incentivos fiscais seriam privilégios de setores específicos. Segundo ele, o problema está na estrutura tributária brasileira, que encarece o consumo e penaliza toda a população.
“O Brasil tem uma carga tributária muito alta. Quem paga não é o empresário. Quem paga é a população, quando compra. Tem coisa aqui no Brasil que é barata para produzir e cara quando se consome. É cara quando você coloca a carga tributária.”
“Nós temos uma carga tributária enorme com uma prestação de serviço horrorosa. Se quiser uma boa educação, tem que pagar particular. Se quiser uma boa saúde, tem que ter convênio.”
Ele alertou que o fim dos incentivos pode resultar em aumento generalizado de preços.
“Se formos acabar com todos os incentivos fiscais, os preços de tudo vão subir estratosfericamente na mesma proporção. Aqueles incentivos foram retirados dos respectivos custos das mercadorias que foram vendidas.”
‘A discussão tem que ser sobre o custo do Estado’
Na avaliação do presidente da Fiemg, o problema central não está nos incentivos, mas sim no tamanho e na ineficiência do Estado brasileiro. Roscoe defendeu que a prioridade do país deveria ser a reforma administrativa.
“Se for para reduzir incentivo para o governo gastar mais, sou totalmente contra. Nós tínhamos que estar discutindo hoje é a reforma do Estado, a redução do Estado, o aumento da eficiência do Estado.”
“A nossa briga tem que ser pela redução do custo do Estado para que o cidadão pague menos tributo.”
Ele também alertou que a reforma tributária aprovada, com a criação do novo IVA (Imposto sobre Valor Agregado), levará o Brasil a ter o maior imposto do tipo no mundo. “Eu fui agora ao Japão, o IVA lá é 10%. Nós vamos ter IVA aqui de 28. Lá a saúde funciona, o transporte funciona, estrada não tem buraco. Aqui vamos precisar de 28 para não ter nada.”
Investimentos japoneses em Minas
Apesar das críticas, Roscoe ressaltou a importância da relação histórica entre Minas Gerais e o Japão, especialmente com empresas como Usiminas e Cenibra. Ele afirmou que os laços culturais e comerciais são duradouros, mas exigem continuidade e confiança.
“O japonês se sente culturalmente muito honrado com a visita. Toda vez que você está de maneira contínua mantendo a relação, eles aumentam a confiança.”
Segundo ele, investimentos industriais são sempre de longo prazo e precisam de regras estáveis.
“Tem que falar da segurança jurídica. Várias empresas investiram bilhões em função de incentivo fiscal. Depois não dá para voltar atrás do investimento já feito.”