O deputado federal Diego Andrade (PSD-MG) avalia que o Brasil deve priorizar negociações diplomáticas para reduzir os impactos do tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos a produtos brasileiros. Em entrevista à 98 News, nesta sexta-feira (1/8), o parlamentar afirmou que medidas de retaliação só devem ocorrer se o diálogo for esgotado.
“Eu acho que a gente tem que tentar esgotar todas as possibilidades de retirar essa tarifa. Retiraram de alguns produtos e a gente precisa ampliar os produtos que estejam fora e, de forma direta, vamos trabalhar para que a gente consiga, especialmente, focar nos produtos muito importantes aqui para Minas Gerais, como o café. E eu acredito que qualquer tipo de medida nesse sentido só seria necessária se esgotarem as negociações”, disse.
“A gente está vivendo um momento no Brasil de muita, de muita tensão ideológica entre direita e esquerda, mas estamos precisando é de mais gente centrada para poder negociar, para conversar e para fazer as coisas avançarem”, defendeu.
“Eu acho que foi, graças a Deus, um pouco mais leve [o tarifaço] do que a gente esperava, porque a gente não via, por parte dos interlocutores do governo, tanto esforço para redução dessas taxas. Mas eu acredito que a gente pode avançar para reduzir ainda mais em vários produtos”, disse.
Negociações setoriais
Questionado sobre a possibilidade de negociações diretas por setores estratégicos, como o do café, Andrade disse que é possível buscar sensibilidade junto a entidades e ao mercado americano, mesmo que os governos não tenham portas abertas imediatas.
“Exatamente. E a gente, até para poder fazer alguma medida de tarifa contra os Estados Unidos, caso chegue nesse ponto, precisa ser seletivo. De checar aquilo que não vai impactar o cidadão brasileiro de forma também cruel, para saber onde agir de forma cirúrgica para ir melhorando essa negociação e estabelecer, com diplomacia, um caminho que proteja o povo brasileiro. É o que a gente tem que fazer”, afirma.
P”olítica é o caminho da conversa, do diálogo e do respeito. E é o que a gente, às vezes, não tem visto aí nesses radicalismos aqui no Brasil. Isso acaba refletindo em medidas duras fora daqui. E esse radicalismo, ele está deixando também a política e indo para o Supremo, o que é um absurdo. Onde a gente precisaria, deveria, encontrar um pouco mais de equilíbrio”, disse.
“A gente está vendo aí decisões e posições de alguns ministros radicais, inflamando ainda mais esse radicalismo no país. Isso é muito ruim e a gente espera que esse tempo vire logo para a gente ter o foco no que verdadeiramente interessa, que são os problemas do país e os problemas também do estado de Minas Gerais. A gente tem feito o mandato da gente focando nisso, que é o que interessa aos mineiros: melhorar a vida de todos”, afirmou.
Minas e Energia na pauta
O deputado, que recentemente foi conduzido à presidência da Comissão de Minas e Energia da Câmara, comentou os desafios do setor.
“O energético brasileiro, o que a gente fica incomodado, é de ver o país com uma planta limpa, eficiente, um sistema integrado, mas com uma conta cara ainda para o cidadão. Então, o foco principal é fazer com que a conta para o cidadão, para todos nós que estamos todo dia pagando, seja reduzida. A conta de luz é cruel. A gente lembra dela quando o boleto chega na nossa casa”, explica.
“Mas a gente tem que lembrar que no pãozinho da padaria tem conta de luz, no combustível do carro tem conta de luz, na roupa que a gente compra, a indústria gastou luz, e está tudo embutido. E a gente precisa avançar. É um setor que carece ainda de melhorias”, defende.
“Hoje tem uma medida provisória, que é a 1300, que eu aprofundei bastante nela. Acho que ela é positiva para modernizar o setor, beneficiando milhões de brasileiros. Eu tenho defendido a sua aprovação e tentando também avançar com projetos importantes”, continua.
“Por exemplo: hoje nós temos corte de energia. Ou seja, estão jogando fora energia durante o dia, principalmente por conta dos 40 GB injetados no sistema pela fotovoltaica. E olha só: a lei ainda é de 2005. Para o agricultor que queira irrigar e produzir com energia barata, hoje ele só pode contratar essa energia à noite, porque a lei assim prevê, sendo que o sistema já modernizou, já entrou o sistema fotovoltaico e hoje tem sobra de energia de dia”, disse.
“Então o Congresso não pode estar atrás. Ele tem que estar mais ágil e dando respostas mais eficientes. Na questão do setor energético, a gente focou muito nessa questão”, afirma.
“E na questão do setor mineral, que a gente sempre trabalhou, é que a gente tem uma mineração importante, mas com mais justiça social. A gente não pode ver recurso para o Estado de Minas Gerais, especialmente para os estados mineradores — a maior parte da mineração está em Minas e no Pará — só quando tem tragédia e quando tem morte. Isso está errado”.
“A gente precisa de contrapartidas melhores e mais eficientes para o nosso estado, que hoje vive uma situação financeira drástica, como a dívida de 170 bilhões, que fere de morte os investimentos em infraestrutura, a remuneração dos professores, o fortalecimento do salário dos nossos policiais e dos profissionais da saúde”, detalhou.
PL 2757/2025 e o encontro de contas
Diego Andrade destacou como prioridade o PL 2757/2025, que propõe abater da dívida de Minas todo recurso que a União receber em decorrência dos acordos de Mariana e Brumadinho.
“Então, a minha proposta é que os recursos, todo e qualquer recurso que entra na União fruto da tragédia, sejam automaticamente abatidos da dívida de Minas no encontro de contas. É uma posição lógica, porque não pode o Estado estar todo endividado e a gente sabe que a origem dessa dívida foi uma iniciativa da União lá atrás, em tirar uma arrecadação de Minas Gerais”.
“Mas tudo bem, hoje nós estamos com a situação posta. E por isso apresentei esse projeto e espero que ele seja distribuído brevemente pelo presidente da Câmara, e que toda bancada, o governador e os senadores apoiem. Ainda que a gente não consiga fazer a compensação integral de todos os recursos, parte dessa compensação já valeria pelo menos uma estabilização forte da dívida de Minas”.
“O que é que a gente está defendendo? A gente está defendendo que o policial tenha um salário melhor, que a gente tenha mais policiais nas ruas, que a gente tenha estradas melhores, uma saúde mais eficiente e uma educação mais forte, com professores valorizados. Porque é o mesmo dinheiro do caixa do Estado. Se a gente não conseguir achar uma saída para essa dívida, realmente o Estado segue ferido”, explicou.
Radicalismo e necessidade de equilíbrio
Ao final da entrevista, Diego Andrade reforçou que acredita na política do equilíbrio e do diálogo.
“Eu gostei muito de uma entrevista que eu vi do Arnold, né? Eu sempre fui fã dele como artista e como governador da Califórnia. E ele dizendo que as coisas, para serem resolvidas, a gente precisa ir pelo caminho do centro e do equilíbrio”, afirma.
“A gente tem que tentar ter um pouco mais de pé no chão. Eu acho que Deus nos ensina muito: nos deu uma perna direita e uma perna esquerda justamente para a gente andar para a frente”.
“Não é o radicalismo para a direita nem o radicalismo para a esquerda que vai levar a gente a lugar nenhum. É possível ser firme com seus princípios, defender a saúde, a família, o produtor rural — que são prioridades minhas ao longo da minha vida pública —, mas sem radicalismo”, disse.
“Acho que tem que ter inteligência. Foi assim que eu conduzi a bancada mineira por 5 anos. Foi assim que conduzi a maioria no Congresso Nacional no governo Bolsonaro, na liderança do PSD. E é assim que estou exercendo meu quarto mandato como um dos deputados mais votados de Minas Gerais.”