A eterna árvore de Natal de BH

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Paulo Leite

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A falta de sincronização dos semáforos é um espetáculo à parte (Foto: Isabel Baldoni/PBH)

Vista da Estação Espacial Internacional que orbita sobre a Terra, há um “pisca-pisca” permanentemente ligado. Os primeiros astronautas que lá permaneceram ficavam intrigados. 

Porém, pouco tempo depois, esse fenômeno foi desvendado: lá onde as luzes piscavam estava Belo Horizonte, a capital mundial dos sinais em “flash”.

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A forma irônica que comecei minha coluna revela uma cruel realidade: em pleno 2025, Belo Horizonte ainda parece refém de um problema que já deveria ter sido superado há muito tempo — os sinais de trânsito em “flash”. Não importa o horário, se chove ou faz sol, lá estão eles, piscando de forma incansável.

A falta de sincronização dos semáforos é um espetáculo à parte. Um verdadeiro balé descompassado, onde o motorista se vê obrigado a parar em praticamente todos os cruzamentos, mesmo em vias principais. E nem adianta apelar para a paciência. O relógio segue impiedoso, marcando o atraso de quem tenta cruzar a cidade sem perder a sanidade.

As soluções mundo afora

Em cidades do mundo todo, a tecnologia já deu as cartas. Programas de sincronização inteligente, como o Scoot (Split Cycle Offset Optimization Technique), ajustam os tempos dos semáforos em tempo real com base no fluxo de tráfego.

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Outro exemplo é o Scats  (Sydney Coordinated Adaptive Traffic System), utilizado em mais de 55 mil interseções em 28 países.

O Google desenvolveu o Green Light, um projeto que utiliza inteligência artificial conjugada aos dados do Google Maps para otimizar os sinais de trânsito, reduzindo as paradas e emissões de carbono nos cruzamentos das cidades.

Enquanto isso, a capital mineira segue oscilando entre o verde, o vermelho e o amarelo intermitente, como se estivesse presa em um modelo ultrapassado, comandado por um órgão, a BHTrans, que se transformou em um cabide de empregos de pouquíssima utilidade para a mobilidade, esbarrando em uma imensa burocracia e na falta de planejamento.

O uso de softwares de otimização de tráfego, integração com sensores inteligentes e o monitoramento em tempo real são soluções que não apenas existem, mas funcionam comprovadamente. Falta boa vontade e um olhar mais atento para o que já é realidade em outras cidades do mundo e do Brasil.

São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Campinas e Santos são alguns exemplos de que existem, sim, soluções para um problema que aflige a maioria das cidades médias e grandes do planeta.

Um recente estudo da CNT (Confederação Nacional dos Transportes) posicionou Belo Horizonte como a segunda capital do país com o pior trânsito, perdendo para Recife e empatando com São Paulo. A capital paulista tem dez vezes mais veículos circulando por suas ruas e avenidas.

Em Belo Horizonte, um motorista leva em média 57 minutos para percorrer 10 quilômetros. Se considerarmos a quantidade de horas perdidas no trânsito e a velocidade média durante os momentos de pico, a capital mineira ocupa o primeiro lugar no Brasil em lentidão e falta de fluidez.

Uma árvore de Natal vista do espaço

Enquanto isso, seguimos sendo observados do espaço como uma eterna árvore de Natal, com motoristas fazendo seus eternos testes de paciência e tentando adivinhar se no próximo cruzamento teremos o milagre da fluidez.

A cada flash, a lembrança: Belo Horizonte merece mais que sinais piscando em modo aleatório. Merece fluidez, merece sincronia, merece uma gestão de trânsito que saiba o significado da palavra evolução.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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