O tema hoje é o novo papel da coerência na gestão de marcas. Vivemos o que Byung-Chul Han chama de sociedade da transparência, um tempo em que tudo precisa ser mostrado, compartilhado, confessado, mas, paradoxalmente, nada parece verdadeiro. A autenticidade, que deveria ser um valor íntimo e silencioso, virou espetáculo público. Nas redes, a espontaneidade virou performance.
Todos desejam parecer reais, transparentes, gente como a gente, mas não abrem mão do filtro Paris. O problema é que, quando a naturalidade é ensaiada, o público percebe o roteiro — já disse isso — e não há nada mais falso do que o falso verdadeiro. No branding contemporâneo, a autenticidade virou moeda simbólica.
Marcas e profissionais utilizam o discurso da vulnerabilidade como ferramenta estética, humanizam a imagem, mas sem coerência ética ou prática. É a era do “sou imperfeito, logo engajo”. Só que o público já enxerga essas fissuras: empresas que pregam diversidade, mas mantêm estruturas excludentes; líderes que discursam empatia e cultivam ambientes tóxicos. O resultado é um colapso de confiança.
Quando tudo soa autêntico, nada mais convence. Nas organizações, esse é um ponto de inflexão. A coerência deixou de ser atributo moral e tornou-se ativo estratégico. Como lembra Simon Sinek, o discurso só tem força quando o “porquê” é verdadeiro, quando o propósito é sustentado por ações e não por campanhas. A autenticidade não é sobre parecer humano, mas sobre alinhar comportamento, valores e narrativa.
Reconstruir autenticidade exige mais silêncio e menos autopromoção. Não nasce da exposição, mas da congruência entre o que se diz, o que se faz e o que se é. Em um mundo que desconfia de tudo, ser autêntico não é ser espontâneo, é ser íntegro. E essa integridade, curiosamente, é o que o público mais anda procurando.
