O preço do café já começou a subir nos Estados Unidos — e o curioso é que essa alta ainda nem reflete as tarifas impostas pelo governo de Donald Trump ao Brasil. Grande parte do café brasileiro exportado para os Estados Unidos já estava vendida e embarcada quando as tarifas entraram em vigor. Por isso, o impacto direto sobre os preços ainda não apareceu de forma completa, mas o mercado já se antecipa.
Os contratos futuros estão em alta, e os importadores americanos começam a buscar alternativas de fornecimento. Só que substituir o café brasileiro não é tarefa simples. O Brasil é o maior produtor e exportador mundial, com grande escala, eficiência e preços competitivos. Quando os Estados Unidos buscam outros fornecedores, entram em cena países com menor produtividade e custos mais altos.
É o que nós, economistas, chamamos de desvio de comércio, quando uma tarifa força a compra de quem produz pior e mais caro. Além disso, há um fator global agravando o problema: a oferta de café caiu em todo o mundo por conta de condições climáticas adversas, especialmente no Vietnã e na Colômbia. Ou seja, há menos café no mercado e, agora, mais barreiras comerciais para o produto brasileiro chegar ao consumidor americano.
Para os amantes de café nos Estados Unidos, as perspectivas para 2026 não são animadoras. Com as tarifas mantidas, os próximos embarques brasileiros devem sair mais caros — ou simplesmente não chegar. Em ambos os casos, o resultado é o mesmo: café mais caro e menos disponível nas xícaras americanas.
Em economia, não existe alquimia. Tarifas não criam prosperidade, apenas distorcem preços, reduzem eficiência e fazem o consumidor pagar mais caro. A tentativa de proteger produtores locais acaba punindo o próprio país com inflação e perda de bem-estar. E, importante: qualquer semelhança com o que vemos em produtos industrializados do Brasil não é mera coincidência — mas, desta vez, o Brasil está do outro lado das tarifas.