Visão Macro de hoje: vamos retomar parte da discussão sobre o mercado de trabalho brasileiro.
Na verdade, aqui sob a ótica do último estudo publicado pela FGV e pelo Ibre, um dos principais centros de estudos econômicos do país, que, de maneira técnica, quantitativa e, obviamente, conclusiva qualitativamente, consegue jogar luz sobre o processo de reação dos agentes — ou incentivos responsivos — nas políticas públicas de transferência de renda, como é o caso do Bolsa Família. O resultado é impressionante.
No final das contas, dada a necessidade da formalidade em relação ao Bolsa Família — ou seja, as famílias que são formalizadas no mercado de trabalho não podem receber o benefício —, isso leva a que a grande maioria das famílias vá para a informalidade. E isso é importante sob a seguinte ótica: parte dos incentivos de participação no mercado de trabalho da população economicamente ativa, ou da força de trabalho, acaba sendo distorcida ao longo do tempo.
E isso é, de alguma maneira, ampliado não só pelo Bolsa Família, mas também pela separação de outros benefícios específicos, contínuos e sequenciais, voltados ao aumento da renda mínima da população com menor massa salarial. Isso leva a uma distorção do dado específico de como olhamos os 5,6% da taxa mínima histórica de desemprego. Mas é exatamente esse tipo de dado que é confrontado quando olhamos para a máxima histórica da inadimplência das famílias.
O que significa dizer que, embora tenhamos uma estatística bonita de um lado, a realidade do salário real convertido é muito diferente. Ou seja, as famílias não conseguem gerar poupança e nem necessariamente conseguem honrar compromissos, nem mesmo com bens discricionários — apenas com bens necessários. Isso tem transformado o nível de renda do país em algo bastante estagnado, vis-à-vis o avanço do processo inflacionário.
Isso é importante de ser discutido, pois, embora a transferência de renda seja relevante, a maneira como ela é feita — ou o dado qualitativo desse gasto —, na verdade, não cumpre de fato o seu propósito. Ou seja, a transferência de renda aumenta, mas os preços também aumentam, e não há sequência entre ganho de produtividade, aumento de produção e demais fatores.
Temos que discutir, no cerne, novamente, a qualidade do crescimento — não somente estatísticas bonitas —, mas, principalmente, como as famílias conseguem interpretar ganhos reais de renda ao longo do tempo, não apenas ganhos nominais a partir de transferências feitas por programas, como o Bolsa Família e outros que têm se potencializado, principalmente na virada de anos eleitorais.