Uma peça de comunicação do Governo Federal que usa memes e gatinhos para explicar mudanças na tabela do Imposto de Renda gerou reações divergentes entre analistas e especialistas. Publicada nas redes sociais do perfil oficial do governo, a campanha utiliza linguagem jovem inspirada no TikTok para ilustrar a proposta de reforma tributária, que tem como um de seus pontos a ampliação da faixa de isenção.
Na animação, um gatinho trabalhador tem parte de seu salário descontado e é apresentado como beneficiário das mudanças. Segundo a peça, cerca de 10 milhões de pessoas, representadas por “gatinhos”, seriam favorecidas. A comunicação também afirma que os “gatos super ricos”, que ganham em torno de R$ 1 milhão por ano e “quase não pagam IR”, passariam a contribuir mais com o fisco.
A escolha pela linguagem popular e o uso de elementos da cultura digital foram vistos por alguns como uma tentativa de aproximar o debate econômico da população, mas também geraram críticas quanto à simplificação e à veracidade das informações.
O economista e colunista da 98 News, Izak Carlos, alertou para os riscos de empobrecimento do debate e de desinformação nesta segunda-feira (7/7). “Acho válido tentar explicar as coisas de forma didática, mas existe uma linha tênue entre ser didático e fazer chacota. Esse tipo de comunicação não me agrada no aspecto político e econômico”, afirmou.
Segundo ele, a campanha reforça uma narrativa de oposição entre pobres e ricos, sem base técnica: “Estamos falando de aumento do IOF, de custo de crédito. Quem mais consome crédito é o pobre. Não faz sentido dizer que só os ricos fazem transações financeiras”, explicou. Para Izak, a estratégia reduz uma discussão complexa a uma caricatura. “Cria-se a imagem de que o empresário é o vilão que não quer pagar imposto. Isso não ajuda.”
Apesar das críticas à forma e ao conteúdo, o economista reconhece que o governo busca romper barreiras de comunicação com parte da sociedade. “O Governo Federal demorou para entender que precisa alcançar o tecido social onde ele está, especialmente nas redes. Esse conteúdo tem potencial de romper uma bolha e ampliar a discussão.”
No entanto, o especialista ressalta que o principal problema está na associação feita pela campanha entre o aumento do IOF e a redução no Imposto de Renda, ligação que, segundo ele, não se sustenta. “Estamos desinformando. Não existe relação direta entre IOF e desoneração do IR. Esse argumento é falacioso e, na minha avaliação, desonesto.”
Izak Carlos também criticou o uso de estratégias de comunicação típicas de influenciadores digitais por órgãos oficiais. “Esse papel não é da Secretaria de Comunicação. É do TikToker. O governo tem a responsabilidade de ser transparente, honesto e correto. E não pode, sob nenhum argumento, desinformar a população.”