Já pensou em trabalhar 13 horas por dia no setor privado? Pois é, o parlamento da Grécia acaba de aprovar uma lei que permite essa jornada — um salto considerado no escuro nas condições de trabalho de um país que já enfrenta a mais elevada média de horas trabalhadas da Europa.
Essa modificação ocorre em um contexto de baixos salários, poder de compra estagnado e uma recuperação econômica que ainda não se traduz em ganhos reais para os trabalhadores. Para os sindicatos e para os colaboradores, esse é um sinal claro: a flexibilidade defendida pelo governo pode se traduzir em aumento da exploração. Greves gerais paralisam o país, com protestos que limitam os transportes públicos e os serviços também.
A crítica central é que as jornadas alongadas corroem o equilíbrio entre o trabalho e a vida pessoal, enfraquecem a negociação coletiva e empurram os direitos fundamentais para um segundo plano.
O que isso representa para o futuro do trabalho? Primeiro, lembra que a flexibilização não é neutra — ela carrega impacto direto sobre quem trabalha. No chão das operações, funções que antes tinham rotina definida passam a exigir disponibilidade e adaptabilidade maiores. A linha entre horário normal e hora extra se dilui, e o profissional precisa decidir se essa mudança é uma oportunidade ou um risco.
Em segundo lugar, mostra que o poder da organização do trabalho importa — e importa muito. Quando regras são alteradas sem participação significativa de quem executa o trabalho, o resultado tende a ser tensão e retração de qualidade. A produtividade pode até subir no curto prazo, mas a sustentabilidade do sistema é ameaçada.
Por fim, evidencia que as condições de trabalho não dependem apenas da tecnologia ou dos salários, mas também das estruturas jurídicas, sociais e culturais que as moldam. Países ou empresas que internalizam essa lógica se posicionam melhor para desenhar ou redesenhar modelos que sustentem tanto o lucro quanto a dignidade.
A jornada de 13 horas na Grécia não é apenas uma notícia europeia — é um aviso global. Se o futuro do trabalho for construído com base em adrenalina e hora extra, o custo não será apenas físico, será humano.