Às vésperas da reunião do Copom, o ministro da Fazenda resolveu, mais uma vez, aparecer e palpitar sobre um tema que não lhe pertence: a taxa de juros. Felizmente, o mercado já se acostumou com suas declarações desastradas e, talvez por fadiga, já as ignore. Mas não dá para deixar passar as incongruências técnicas e os equívocos conceituais que marcaram sua fala recente. Desejo eu que sejam motivadas mais por interesse político do que por desconhecimento econômico. É o que quero acreditar enquanto cidadão.
O ministro começou sua sequência de equívocos afirmando que “por mais pressão que os bancos façam sobre o Banco Central para não baixar juros, eles vão ter que cair”. Essa é uma fala que mostra, no mínimo, uma compreensão distorcida da dinâmica bancária e da própria economia do crédito.
Bancos não ganham com juros altos, ao contrário do que sugere a frase. Quando os juros permanecem elevados por muito tempo, o crédito encolhe, o consumo cai e a inadimplência aumenta. Com isso, o sistema bancário perde fôlego. Instituições financeiras vivem de emprestar e, para isso, precisam de um ambiente previsível, com inflação sob controle e confiança na política econômica. Juros altos demais, por tempo demais, são prejudiciais para o crescimento do crédito, para os bancos e, principalmente, para a economia real.
A segunda pérola do ministro foi ainda mais grave. Ele disse: “Não tem como sustentar 10% de juro real com inflação andando em 4,5%. Você vai supor um juro de 15% em nome de quê?”
A declaração ignora a lógica básica da política monetária. O Banco Central não reage à inflação corrente, como parece sugerir o ministro. Ele reage à inflação esperada e à inflação inercial, isto é, à tendência de persistência dos aumentos de preços e às expectativas para os próximos anos.
E é justamente aí que está o problema. Mesmo que a inflação atual esteja próxima de 4,5%, como disse o ministro, a meta oficial é de 3%. Estamos, portanto, acima da meta tanto no presente quanto nas previsões futuras. E isso não é culpa do Banco Central — é reflexo direto da falta de responsabilidade fiscal do próprio governo.
As expectativas de inflação para 2025, 2026 e 2027 continuam desancoradas. O mercado não acredita que a inflação vá convergir para o centro da meta no médio prazo. E por que isso ocorre? Porque o governo gasta demais, cria programas sem fonte permanente de receita e transmite incerteza sobre a trajetória da dívida pública.
O resultado é previsível: a política fiscal expansionista empurra a política monetária para o aperto. Enquanto o Ministério da Fazenda pisa no acelerador do gasto, o Banco Central é obrigado a pisar no freio dos juros.
Em economia, não existe alquimia. Não dá para ter juros baixos com gasto público descontrolado, inflação desancorada e dívida pública em trajetória explosiva. A taxa Selic é consequência — e não causa — do desarranjo fiscal.
O ministro da Fazenda reclama da taxa de juros, mas ignora que é o próprio comportamento do governo que obriga o Banco Central a agir com cautela. O dia em que o ministro parar de fazer politicagem e começar a fazer gestão fiscal, o Banco Central poderá, enfim, exercer seu trabalho com mais liberdade e eficácia.
Na prática, o único motivo de termos juros a 15% ao ano é o próprio ministro. Se ele quer que a Selic caia, não precisa dar entrevistas — precisa entregar responsabilidade fiscal, credibilidade e previsibilidade. Só assim os juros cairão de forma sustentável e o país poderá crescer com estabilidade e confiança.
