Em depoimento ao Supremo Tribunal Federal (STF) na tarde dessa quinta-feira (25), o ex-assessor do Ministério da Defesa, Mário Fernandes, negou que tenha compartilhado com qualquer autoridade um suposto plano golpista encontrado em seu computador, intitulado “Punhal Verde e Amarelo”. Segundo ele, o conteúdo se tratava apenas de uma análise pessoal e não foi produzido com intenção de execução.
“Esse arquivo digital nada mais retrata do que um pensamento meu que foi digitalizado. Um estudo de situação, uma análise de riscos. Não foi compartilhado com ninguém, absolutamente ninguém”, afirmou.
Questionado sobre o fato de o arquivo citar armamentos como fuzis, lança-granadas e outros equipamentos de guerra, Mário Fernandes reiterou que o texto não passava de uma especulação teórica. “Hoje me arrependo de ter digitalizado isso. Mas o que é mais importante: não passa de um compilamento de dados, com a visão de um militar, de uma análise de situação”, declarou, negando relação com qualquer plano de ação real.
O ex-assessor também negou que tenha apresentado ou levado o documento ao então presidente Jair Bolsonaro. Conforme registros, Fernandes imprimiu o arquivo no Palácio do Planalto e, minutos depois, foi ao Palácio da Alvorada. Ele rechaçou a ligação entre os eventos: “Imprimi para ler em papel, para não forçar vista, como sempre faço. E após isso, rasguei. A coincidência do horário foi apenas isso: uma coincidência”, disse, acrescentando que sua função administrativa justificava visitas frequentes à residência presidencial.
Mário Fernandes na suposta trama golpista
Sobre mensagens enviadas ao coronel Mauro Cid, em que citava oportunidades e ações antes do fim do mandato presidencial, Fernandes tentou afastar a ideia de que estivesse envolvido em conspirações. “Talvez a forma tácita de eu transmitir minhas ideias tenha levado a me chamarem de radical. Mas o que eu defendia era que o presidente buscasse, dentro de suas prerrogativas, soluções institucionais para as dúvidas da sociedade”, afirmou.
Em relação ao documento “HD 2022”, depois renomeado como “Gabinete Crise GSI”, Fernandes confirmou que mandou fazer seis cópias, mas negou que o conteúdo tivesse viés golpista. “O documento me foi enviado com objetivo de assessoramento. A determinação foi minha ao meu chefe de gabinete. Agora, o objetivo era apresentar ao GSI, que é doutrinariamente responsável pela montagem de gabinetes de crise e não ao presidente Bolsonaro”, explicou.
Sobre uma suposta reunião em 17 de dezembro de 2022 no Palácio da Alvorada, com entrada registrada às 18h05, Fernandes alegou não se lembrar do teor do encontro. “Eu ia ao Alvorada com frequência por atribuições funcionais. Geralmente nem falava com o presidente, só havia conversas de cortesia”, afirmou, negando que a visita estivesse relacionada a discussões sobre ruptura institucional.
Mário Fernandes reconheceu que pode ter havido falhas de interpretação sobre suas ações, mas rejeitou qualquer intenção golpista. “A crise a que o documento se referia pode ter sido qualquer uma. Não necessariamente a que a Procuradoria Geral da República aponta”, concluiu. A fala de Mário Fernandes ocorre em meio à apuração de uma suposta tentativa de golpe de Estado no fim do governo Bolsonaro.