Sob a ótica da sinalização que o comitê pretende dar ao mundo como um todo, desde o pós-pandemia, o mundo tem confiado muito o seu crescimento em estímulos fiscais e em medidas de curto prazo. Isso tem gerado uma problemática de endividamento muito maior, com níveis de juros mais altos, muito embora os estímulos ainda permaneçam. No curto prazo, isso faz com que o PIB continue crescendo e, de alguma maneira, gere algum alívio, não é?
O recado do Prêmio Nobel é que isso não é crescimento sustentado. Na verdade, o único jeito de gerar crescimento econômico é a partir quase de uma visão de Schumpeter — de criação destrutiva —, ou seja, do efeito da competição: sobrevivem as empresas que realmente devem sobreviver. É importante que os incumbentes sejam desafiados pelos novos entrantes. Ali sim há progresso.
E, obviamente, o progresso vem pelo lado do avanço técnico e tecnológico, junto a esse processo de competição na economia, que já abordamos em outras edições da nossa visão macro por aqui. A própria estrutura econômica de competição ajuda de maneira relevante. Não se deve proteger quem não se deve proteger; pelo contrário, deve-se estimular as novas entradas e os novos processos, para que desafiem o modelo já existente.
Isso é válido para todas as frentes — seja no mercado financeiro, nas fintechs, no setor imobiliário, nos seguros, na saúde e assim por diante. Tudo o que vem acontecendo nos últimos anos amplifica essa discussão agora levantada pelo Prêmio Nobel, principalmente diante do avanço da competição entre China e Estados Unidos na questão do progresso tecnológico.
Quem não se lembra do chamado Deep Seek Day? Talvez mais importante que o processo tarifário em si seja a disputa tecnológica entre China e Estados Unidos na área de inteligência artificial. Aqui está o grande motor. É a partir dessa competição — em que vence quem for o melhor — que ambos os países devem gerar crescimento econômico baseado no progresso tecnológico.
Vale lembrar que os Estados Unidos ainda estão muito à frente nesse aspecto. O investimento em capital feito pelas empresas de tecnologia e inteligência artificial americanas chega anualmente a algo entre 300 e 400 bilhões de dólares — o famoso CAPEX. Na China, o valor não passa de 40 bilhões, embora ainda seja uma cifra altíssima.
Mas é importante lembrar que esse tamanho precisa ser necessariamente vislumbrado como o retorno do capital olhando para frente. É isso que vai impulsionar o crescimento econômico, por meio do investimento dessas próprias empresas — não só pela usabilidade da tecnologia em si, mas também pelo retorno do investimento realizado.