O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, foi direto: a poupança é um produto apoiado na desinformação. A frase é dura, mas é verdadeira. A poupança talvez seja o investimento mais brasileiro que existe. Passa de geração em geração, tem valor cultural e até um certo carinho afetivo.
É o lugar onde guardamos o primeiro dinheiro, o presente dos avós, o pé de meia de muita gente. Mas, do ponto de vista financeiro, é um péssimo negócio. Hoje ela rende cerca de 6,8% ao ano, enquanto a taxa Selic está em 15% ao ano. Isso significa que, com o mesmo risco de crédito, o poupador deixa de ganhar quase metade do que poderia em aplicações igualmente seguras, como certificados de depósito bancário ou fundos de renda fixa simples.
É como se o investidor aceitasse ganhar menos só por tradição. Mas o problema vai além do baixo retorno. A poupança é também um investimento regressivo. Em geral, quem aplica nela são famílias de baixa renda, que têm pouca familiaridade com o mercado financeiro. São pessoas que, com disciplina e sacrifício, conseguem guardar um pouquinho por mês e recebem um rendimento muito abaixo do potencial.
Enquanto isso, o dinheiro que essas famílias depositam na poupança é usado para financiar o crédito imobiliário, especialmente para a classe média e média alta, que compra imóveis com juros subsidiados. Na prática, o sistema faz com que os mais pobres financiem os imóveis dos mais ricos, uma inversão de lógica que poucos percebem. Em economia, não existe alquimia. Quando alguém ganha menos do que poderia, alguém está ganhando mais do que deveria.
O retorno artificialmente baixo da poupança tem um custo social e ele recai justamente sobre quem mais precisa de bons instrumentos de poupança e investimento. O Brasil precisa dar um passo além da cultura da poupança. É necessário educação financeira transparente e produtos simples que ofereçam um retorno justo para quem poupa e trabalha.
O mercado financeiro no Brasil já é muito diversificado, com muitos produtos, e nós precisamos democratizá-lo com acesso de qualidade e educação. Manter o dinheiro parado na poupança hoje é quase o mesmo que vê-lo evaporar em silêncio.
