‘Por que Kalil cria dificuldades para a Arena MRV?’ Para responder essa pergunta, é necessário entender um pouco a trajetória política do ex-prefeito. Sim, porque mesmo tendo sido eleito dizendo-se não político, sempre fez das suas atividades, principalmente a partir da presidência do Galo, um exercício pleno de atos políticos. Não sem motivo, e logo que assume a prefeitura, Kalil começa a desenhar um grupo de apoio com fins políticos para garantir sua forma centralizadora de poder.
Além de levar consigo, a tiracolo, amigos e parceiros de diretoria do Clube Atlético Mineiro, montou um grupo de sustentação que lhe fosse fiel e lhe servisse de suporte para suas decisões, leia-se, nesse grupo principalmente, os secretários Maria Caldas e Jackson Machado, os dois, personagens para as rivalidades que Kalil elegeu dentro do clube.
Jackson Machado, então secretário municipal de saúde, conduziu dentro do Conselho do Galo votação para homenagear familiar de agente político municipal, mesmo sendo o tema estranho à pauta de discussão, além de servir de anteparo para a condução politizada que o então prefeito fez da pandemia do Coronavírus na capital, esse um tema que já mereceu coluna nesse site.
Já a secretária Maria Caldas, responsável pelas políticas urbanas e toda poderosa senhora do planejamento urbano da capital, foi a condutora, “talvez por orientação do prefeito”, das exigências quase que incompreensíveis de contrapartidas para a construção da Arena MRV.
Os dois casos acima relatados revelam a estranha mistura de interesses de Kalil que, mesmo prefeito, ainda mantinha, ou tentava manter, poderes dentro do clube que presidira. Porém vamos tratar do segundo caso, o das contrapartidas.
Começamos lembrando que um dos traços marcantes da personalidade de Kalil é o autoritarismo, quase sempre expresso na forma como conduz suas relações. Relações essas que, vez por outra, esbarram nessa característica e são transformadas pelo ex-prefeito em inimizades. Foi assim na ruptura com o grupo que passou a conduzir os destinos do Galo. Mas vamos falar das contrapartidas.
A média exigida para a construção de grandes edificações, entre elas os estádios, nas capitais brasileiras gira em torno de 5% do valor dessas construções. Como o valor inicial estimado para a construção da Arena do Galo era da ordem de 410 milhões de reais, seria justo estimar um valor aproximado de 20 milhões de reais nessas contrapartidas. Claro que os valores estimados foram reajustados e, portanto, nada mais justo que estimar-se valor maior delas, porém nunca perto dos, aproximadamente, 107 milhões a serem entregues, se possíveis, em 2023, e distante das totais contrapartidas exigidas que giram na casa dos 178 milhões de reais (mais de 200 milhões de reais a valor presente).
Ainda a título de comparação, estádios como as arenas de Palmeiras, Grêmio e Corinthians, uma delas, a do Palmeiras construída em região de adensamento populacional, tiveram em valores, à época de suas construções, de 18 milhões de reais, 40 milhões de reais (a do Grêmio) e 50 milhões de reais (a do Corinthians). Essas duas últimas, questionadas pelos clubes e definidas pela justiça. Em valores corrigidos, essas contrapartidas não seriam superiores a 65 milhões de reais cada.
Porém, para a construção da Arena MRV na capital mineira, que não serve de exemplo em intervenções, algumas contrapartidas chamam a atenção. Por exemplo: construção e manutenção, por 30 anos, de um parque linear; paisagismo na esplanada da Arena mesmo levando-se em consideração o cumprimento da preservação de Mata Atlântica em torno do estádio e a construção do parque linear acima descrito; além do plantio de 53 mil mudas, algo em torno de dez por cento de todas as árvores da cidade, com sua manutenção por 13 anos. Essa última exigência nos faz pensar que a secretaria de política urbana da capital quer reconquistar para Belo Horizonte o título de Cidade Jardim às custas de empreendimento privado, e todas as anteriores, em seu rigor, nos faz ter pena de quem quer realizar grandes empreendimentos de construção na cidade.
As contrapartidas restantes também assustam. Vejamos algumas delas: Terminal de ônibus e passarela dimensionados para um público infinitamente maior que o estimado no acesso a Arena em dias de jogos e com custo aproximado de 14 milhões de reais; uma ligação de pedestres que, em outras arenas pelo mundo, é feita com operações especiais em dias de jogos e eventos, e que custaria mais de 15 milhões de reais; uma passarela para pedestres que não serviria à Arena, mas sim a um ponto de ônibus nas proximidades da mesma, com custo de 5 milhões de reais; e a restauração dos pavimentos de ruas próximas e intervenções na BR 040 que custariam mais de 33 milhões de reais, ações que são de responsabilidade do poder público, em se tratando de estrada federal sob a responsabilidade de concessionária e do DNIT, e das ruas da capital da PBH.
Lógico que para a construção de obra do porte do novo estádio seria natural a exigência de contrapartidas, assim como de toda e qualquer intervenção construtiva de porte na capital, mas o que está descrito acima constitui-se em absurdo e desestímulo para qualquer empreendimento em Belo Horizonte. Isso gera duas questões:
Primeira: Teriam todas as obras similares à Arena sido submetidas às mesmas exigências?
Segunda: Por que Kalil criou tantas dificuldades para a construção da Arena MRV?