Belo Horizonte, capital que se exibe moderna em cartões-postais e discursos oficiais, esconde, nas esquinas da vida real, a vergonha de seu abandono.
Na confluência das avenidas Pasteur e Bernardo Monteiro, catadores de papel — invisíveis para a maioria — amontoam lixo e sobrevivem do que a sociedade descarta, ignorados tanto pelo poder público quanto pelos que ali passam e fingem não vê-los.
O trabalho desses catadores é essencial para a reciclagem, a coleta de resíduos e a preservação ambiental. São eles que reduzem o volume de lixo despejado na cidade, mas o preço que pagam por esse serviço é a exposição constante à humilhação, à sujeira e à mais crua expressão da miséria urbana.
Essa realidade faz parte de um cruel projeto de invisibilidade e comprova que Belo Horizonte falha em garantir direitos básicos, enquanto finge se orgulhar de avanços que não alcançam quem mais precisa.
Trata-se de uma omissão criminosa que exige, com urgência, a criação de programas reais por parte da Prefeitura: implantação de pontos de apoio, disponibilização de centros de triagem organizados, incentivo às cooperativas e respeito a esses trabalhadores que, diariamente, limpam o desperdício gerado pela cidade.
Não basta romantizar o trabalho dos catadores como símbolo de resiliência. É preciso encarar a realidade com responsabilidade: quem fecha os olhos para essa injustiça é cúmplice de sua perpetuação.
Belo Horizonte precisa escolher entre continuar fingindo ser uma cidade moderna ou, de fato, apresentar projetos e realizar ações concretas que promovam a inclusão e a cidadania de todos.