Nós temos duas cidades trocando ideias para cuidar melhor das pessoas. Belo Horizonte assinou recentemente um acordo de cooperação técnica com a cidade de Lima, capital do Peru. Pode parecer distante, mas isso tem tudo a ver com a vida nas cidades.
Lima é uma grande metrópole, com mais de 10 milhões de habitantes, mas também com grandes desafios: redução da pobreza, da desigualdade e inúmeras deficiências na infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade. Mas a cidade tem feito um trabalho relevante para transformar áreas degradadas em lugares melhores.
Um bom exemplo é o programa Limeños del Bicentenario, que já recuperou mais de 15 mil metros quadrados de ruas e calçadas — verdadeiros vazios urbanos, áreas subaproveitadas e espaços que antes serviam como estacionamento ou estavam abandonados, e que atualmente se transformaram em praças, feiras, áreas verdes e espaços de convívio entre a população e a comunidade.
Tudo isso com pouco dinheiro, usando pneus, paletes, materiais reciclados e doações de empresas, moradores e, naturalmente, com um forte apoio do poder público. São ações rápidas e experimentais, também chamadas de urbanismo tático. E o mais importante: com a participação ativa e o engajamento da população, tanto na fase de projeto quanto na fase de instalação.
Existem outros exemplos, como uma garagem que virou um espaço de convivência com árvores e brinquedos. E o resultado? Uma rua que antes era evitada hoje é um ponto de encontro, de convivência e de fortalecimento da vida em comunidade.
Lima também está investindo pesado em mobilidade ativa, com mais de 300 km de ciclovias e um projeto ousado para o seu plano 2021–2040.
Em comparação, Belo Horizonte tem hoje cerca de 100 km de ciclovias, mas iniciou recentemente um amplo programa de investimentos e transformações em centralidades e bairros — inclusive com recursos obtidos por meio de instrumentos urbanísticos.
Outra prioridade de Lima é combater as ilhas de calor. Por isso, o plano da capital peruana prevê mais de 60 projetos de infraestrutura verde, conectando parques, encostas e rios. Já Belo Horizonte acaba de publicar o seu Plano de Arborização Urbana e iniciou recentemente a implantação de diversas soluções baseadas na natureza — como, por exemplo, jardins de chuva, jardins drenantes e os chamados refúgios climáticos.
Temos também, aqui na Região Metropolitana, o Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado, que dialoga com o plano metropolitano de Lima e compartilha a mesma perspectiva: cidades compactas, caminháveis, com áreas verdes, foco em moradia perto do trabalho, resiliência e sustentabilidade.
Lima vem conseguindo testar essas ideias na prática, com pequenas obras feitas inclusive com o apoio das próprias comunidades.
Afinal de contas, cuidar da cidade é cuidar das pessoas. E a cidade boa se faz com essa troca, escuta, colaboração e muita ação.