Jair Bolsonaro desembarcou em Belo Horizonte nesta quinta-feira (26/6) com a pose de quem ainda se vê no Planalto, embora as nuvens de inelegibilidade sigam pairando sobre sua cabeça. Entre cafés, selfies calculadas e tapinhas nas costas, costurou silenciosamente o embrião de um dos palanques mais robustos da direita para 2026, num xadrez político que une pragmatismo, ambição e ilusão.
Uma chapa de direita muito forte
A visita rendeu frutos concretos. O Partido Liberal, de Bolsonaro, selou apoio à candidatura de Mateus Simões ao governo de Minas em troca de palanque e espaço para o Senado. Essa composição, em torno do vice-governador mineiro, também envolve Gilberto Kassab, o todo-poderoso cacique do PSD, indicando o vice na chapa. A equação é simples e eficiente: o Novo garante a continuidade do seu projeto em Minas, o PSD amplia seu controle territorial e o PL de Bolsonaro crava presença estratégica em um estado decisivo.
Entre os nomes ventilados pelo PL para o Senado, Marcelo Álvaro Antônio é o favorito de Bolsonaro, enquanto Eros Biondini e o influencer “Superman” animam a base, funcionando como peças de engajamento digital e de nicho.
Marcelo Aro, secretário de Governo de Zema e nome forte na política mineira, deve ocupar o apoio para a segunda vaga ao Senado, compondo a costura e evitando rachaduras que poderiam comprometer o projeto.
A operação é fria e calculada, como a política exige: Simões fortalece seu palanque, Kassab mantém seu domínio pragmático, e Bolsonaro assegura Minas no radar para 2026, mesmo enquanto paira sobre si a incerteza jurídica que pode impedi-lo de disputar.
A fala de Bolsonaro de que “os mais jovens precisam criar casca” foi um recado claro a Cleitinho e Nikolas Ferreira, que nutrem esperanças para a disputa estadual. É hora de aguardar a fila e fortalecer o palanque, e não de disputar protagonismo em um momento que pede disciplina no campo da direita.
A oposição aos projetos da direita em Minas, por enquanto, é fraca e difusa. Rodrigo Pacheco, visto por alguns como opção lulista, flerta com apoios, mas não se apresenta como pré-candidato, nem estrutura uma narrativa competitiva. Além do fato de que Pacheco ainda sonha com uma vaga no STF, com a possível antecipação da aposentadoria de Luiz Roberto Barroso.
E o Brasil?
No plano federal, a visita de Bolsonaro expôs um fato: a direita, até agora, não construiu um nome de consenso para enfrentar Lula, que se desgasta com os tropeços econômicos e o isolamento em Brasília, e há quem avalie que mesmo a direita fragmentada terá sucesso em 2026 numa disputa com o petista.
Durante a convenção do PL, Bolsonaro foi didático: pediu maioria no Congresso para “transformar o Brasil”. Mas é aqui que o delírio estratégico fica evidente: o capitão ainda enfrenta processos que podem inviabilizar sua candidatura e precisa manter a tropa unida em torno de um projeto que, por ora, depende exclusivamente dele.
Bolsonaro, ao pedir o poder total, sabe que política se faz em etapas: com Congresso e com palanque estadual forte. Porém, se não resolver suas pendências jurídicas, pode ser, mais uma vez, um cabo eleitoral poderoso, mas não o candidato que seus aliados gostariam de ter.
Tecnicamente, o saldo da visita de Bolsonaro a BH foi cristalino: Minas volta a ser peça-chave em 2026, enquanto um palanque competitivo se articula com disciplina partidária e foco estratégico, unindo Novo, PL e PSD. Minas é apenas o início de um xadrez silencioso que se move muito antes de o eleitor notar.
A eleição de 2026 ainda está distante, mas os palanques estão sendo montados agora, no café, nas selfies, na articulação de bastidores e no silêncio estratégico, pois é assim que o poder real se constrói no Brasil.