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Atualmente, o Brasil vive um dilema. O novo arcabouço fiscal aprovado em 2023 não prevê gatilhos verdadeiramente automáticos (IMAGEM ILUSTRATIVA/Gov/Divulgação)

Atualmente, o Brasil vive um dilema. O novo arcabouço fiscal aprovado em 2023 não prevê gatilhos verdadeiramente automáticos (IMAGEM ILUSTRATIVA/Gov/Divulgação)

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Você já ouviu falar em gatilhos fiscais? São mecanismos automáticos que ajustam receitas ou despesas do governo quando estas metas são descumpridas. A ideia é simples: evitar que o desequilíbrio fiscal vire rotina e que a responsabilidade com o dinheiro público dependa apenas de boa vontade política.

Atualmente, o Brasil vive um dilema. O novo arcabouço fiscal aprovado em 2023 não prevê gatilhos verdadeiramente automáticos. O governo pode ultrapassar os limites sem que haja uma reação obrigatória, como congelamento de gastos, proibição de novos subsídios ou até corte de renúncias fiscais. Isso deixa a política fiscal excessivamente sujeita a pressões do momento e, muitas vezes, à conveniência do calendário eleitoral.

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E o que acontece quando não há regras automáticas? O resultado é previsível. O governo gasta mais, a dívida cresce, o mercado perde a confiança, o juro sobe e o crescimento econômico trava. Em vez de prevenir a doença, o Brasil continua tratando os sintomas — sempre com mais endividamento.

Gatilhos fiscais são usados por economias maduras justamente para blindar o Estado de decisões irresponsáveis ou populistas. Quando os gastos saem do controle, entram em ação de forma automática, sem depender de negociação política.

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O Chile, por exemplo, tem regras robustas e previsíveis, e colhe os frutos de décadas de disciplina fiscal. O Brasil, por outro lado, segue à mercê de soluções improvisadas. Além disso, a ausência desses gatilhos cria um ambiente maior de incerteza para investidores, tanto nacionais quanto estrangeiros. Sem regras claras, aumenta o risco percebido, o que pressiona a taxa de câmbio, eleva os prêmios de risco e obriga o Banco Central a manter os juros elevados por mais tempo.

Isso inibe o crédito, desestimula o consumo e atrasa a retomada do crescimento. E o mais preocupante: sem mecanismos automáticos de correção, o ajuste fiscal acaba sendo feito na base da pressão, com cortes emergenciais e aumento de impostos que recaem quase sempre sobre os mesmos contribuintes.

Isso penaliza o setor produtivo e acirra ainda mais a desigualdade social. Em vez de planejamento, entramos no modo “apagar incêndio”. Em economia, não existe alquimia.

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Se o governo não souber gastar dentro de limites claros e previsíveis, alguém pagará a conta — seja com mais inflação, mais juros ou menos crescimento. E, geralmente, quem paga é o contribuinte, o trabalhador e o empresário.

Gatilhos fiscais não são travas ao progresso. São proteções contra o descontrole.

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Izak Carlos

É economista-chefe do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG). Formado em economia pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), com MBA em Gestão Financeira pela Fundação Getúlio Vargas, mestrado e doutorado em economia aplicada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), já atuou como economista, especialista e consultor econômico da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Izak também é sócio-diretor da Axion Macrofinance e Especialista do Instituto Millenium.

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