O governo federal ampliou recentemente os auxílios sociais com medidas de impacto direto no orçamento familiar. O programa Luz do Povo, em vigor desde julho de 2025, zerou a conta de energia para famílias do CadÚnico que consomem até 80 kWh/mês. Já o Gás do Povo, lançado em setembro, prevê a distribuição gratuita de botijões de 13kg para 15,5 milhões de famílias, com início em novembro e previsão de 65 milhões de unidades entregues por ano. O custo estimado chega a R$ 3,5 bilhões em 2025 e R$ 5 bilhões em 2026.
Com energia e gás assegurados, surge uma questão: qual a função do Bolsa Família nesse cenário? Se as despesas básicas já estão cobertas por programas específicos, a manutenção de uma transferência mensal paralela pode representar sobreposição de gastos e perda de eficiência.
O Bolsa Família foi criado para garantir renda mínima, permitindo que famílias escolham como aplicar o dinheiro. Mas, ao acumular benefícios distintos, o Estado corre o risco de criar dependência e dificultar a saída da população da vulnerabilidade. Ao invés de somar auxílios fragmentados, seria mais lógico consolidar em uma política única de renda, clara e transparente, que dê previsibilidade tanto para o beneficiário quanto para o orçamento público.
O problema não está apenas no valor distribuído, mas no modelo. Programas sobrepostos geram custo elevado e pouca clareza sobre resultados. A questão que se impõe é se o Estado deve seguir multiplicando auxílios específicos ou concentrar recursos em um único mecanismo de transferência.
No fim, a dúvida permanece: se luz e gás já são garantidos, qual é o papel real do Bolsa Família hoje? Comprar votos?