Vivemos tempos em que a política virou entretenimento e o debate público, um reality show de curtidas. Uma geração inteira de políticos e eleitores que parece mais interessada em viralizar no TikTok do que em compreender os pilares da cidadania, os desafios da gestão pública ou a seriedade de uma boa política fiscal.
Hoje, políticos desfilam pelas redes como influencers de si mesmos, fazendo discursos inflamados para aplausos instantâneos, mesmo que completamente desconectados da realidade legislativa ou administrativa. Vale mais o corte de vídeo bem editado do que a emenda bem redigida. Enquanto isso, o eleitor, em vez de cobrar propostas concretas, compartilhar memes e bate palmas para frases de efeito. “Lacrou!”, e pronto, está eleito.
Um futuro mal construído
Esse descompromisso com o futuro revela mais do que alienação; é sintoma de uma cultura política rasa, que trocou o debate pelo espetáculo. A política deixou de ser ferramenta de transformação coletiva para virar batalha de egos. Ninguém mais quer ser servidor público. Querem se servir de suas funções buscando a “celebridade da indignação”.
Um país não se administra com reels. A dívida pública não é paga com viralização. E não se constrói futuro com ironia em caixa alta. O Brasil continua enfrentando desigualdade crônica, evasão escolar, colapso no sistema de saúde, déficit fiscal, e isso exige mais do que frases que contenham 280 caracteres, e imagens mirabolantes.
Fazer política de verdade é trabalho de formiguinha: ouvir, negociar, errar e corrigir. É pensar no futuro além do ciclo eleitoral e mais longe que querer estar no próximo trending topic. É ser impopular, às vezes, e, ainda assim, ser reconhecido como necessário.
É claro que as redes sociais não são o vilão. Elas são ferramentas. Amplificam vozes, promovem mobilização, fiscalizam o poder. Mas quando viram o único palco da política, o risco é alto. Elegemos personagens, e não gestores.
Está na hora de retomar a política como ofício e responsabilidade. De exigir mais do que lacração. Política é feita com “P”, maiúsculo, com coerência, preparo, e compromisso com o bem público. Porque, curtidas não constroem hospitais, e o futuro não se constrói com dancinha.