Por que usamos o dólar em quase todas as transações internacionais? O que faz essa moeda emitida por um único país se tornar o padrão global de comércio e reservas internacionais? A resposta está na confiança. O dólar é a principal moeda do mundo porque por décadas representou estabilidade, liquidez, previsibilidade e força institucional, mas esse cenário começa a mudar.
Já há tendências de erosão da dominância do dólar impulsionadas pelo crescente uso de moedas locais nos fluxos comerciais, inclusive entre países como China, Rússia, Índia e Brasil. E isso não está passando despercebido por Washington. Recentemente, o presidente dos Estados Unidos ameaçou taxar países que se alinharem aos BRICS e abandonarem o dólar em suas transações.
É uma reação clara ao avanço de uma nova ordem econômica que busca se afastar da dependência da moeda americana, ao temor de que sem o dólar como moeda hegemônica, os Estados Unidos percam poder geopolítico e financeiro. Mas o problema está dentro de casa. O aumento da dívida pública americana, a instabilidade política, ameaças à independência do FED e incertezas regulatórias são os verdadeiros motores da perda de força do dólar, ou seja, os riscos nos fundamentos da economia americana e não apenas movimentações de países emergentes.
Essa tendência de fragmentação monetária global ainda é gradual, mas crescente. Países vêm fechando acordos bilaterais para usar moedas locais no comércio exterior, como o yuan em acordos com a Ásia e o real em transações regionais. Além disso, a digitalização de sistema de pagamentos internacionais, com avanço de moedas digitais e bancos centrais, pode acelerar esse movimento abrindo espaço para uma arquitetura financeira mais descentralizada. Para o Brasil, esse cenário pode ter implicações importantes.
Por um lado, o enfraquecimento do dólar pode significar a valorização do real e melhora nos ativos locais de curto prazo. Por outro lado, o aumento da fragmentação financeira global traz volatilidades, riscos geopolíticos e maior incerteza nos fluxos comerciais. O mundo está mudando e o dólar, aos poucos, está deixando de ser o único protagonista. Em economia, não existe alquimia. A confiança é construída com responsabilidade fiscal, instituições sólidas e previsibilidade.
O dólar não é forte por acaso e pode deixar de ser se essas bases forem corroídas. O mundo está assistindo e respondendo.