Há quem ainda se espante ao ouvir que, em pleno 2025, 29% dos brasileiros entre 15 e 64 anos são analfabetos funcionais. A expressão até pode soar técnica, mas o problema é escancarado: essas pessoas, apesar de saberem ler e escrever, não conseguem interpretar um texto ou realizar operações matemáticas mais complexas. Trata-se de um terço da população caminhando às cegas em um mundo cada vez mais digital e exigente. Observando-se com rigor, trata-se de um verdadeiro atestado de fracasso para o sistema educacional brasileiro.
O levantamento mais recente do Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf), realizado entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, escancara uma paralisia: temos hoje o mesmo cenário de 2018. Estagnado. Um problema que se arrasta há anos, entra governo e sai governo, fazem-se discursos de campanha e palanques inflamados e, na prática, a realidade continua lamentavelmente a mesma.
Para os jovens de 15 a 29 anos, a situação é ainda mais vergonhosa: o percentual de analfabetos funcionais subiu de 14% para 16% no período. A pandemia, claro, foi um agravante. Mas jogar toda a culpa na covid-19 é ignorar o fato de que a crise educacional no Brasil é uma doença crônica antiga, que vem sendo ignorada, maquiada e tratada com políticas rasas e ineficazes, que buscam apenas reafirmações de números inflados para avaliações superficiais de organismos nacionais e internacionais.
A quase universalização do ensino fundamental e a expansão dos níveis médio e superior foram comemoradas por muitos como grandes conquistas, mas a realidade é que quantidade não significa qualidade. Os estudantes chegam às escolas, mas não aprendem. E essa farsa educacional tem impacto direto na capacidade de inclusão no mercado de trabalho, na produtividade e no desenvolvimento do país. Como podemos falar em avanços sociais quando um terço da população não consegue interpretar um simples contrato de trabalho ou entender a fatura do cartão de crédito?
Estamos criando gerações incapazes de lidar com o básico, mas a conta desse descaso já está sendo paga, e com um valor muito alto. Observe-se a péssima qualidade da mão de obra ofertada ao mercado e suas cruéis consequências na produtividade e no desenvolvimento econômico do Brasil.
A situação se agrava ainda mais quando se analisa a questão do letramento digital. Apenas um em cada quatro brasileiros entre 15 e 64 anos tem nível considerado elevado de habilidade digital. Em um mundo onde até serviços bancários e previdenciários são realizados majoritariamente online, esse déficit é um convite ao caos. Não saber interpretar um texto é um problema; não conseguir navegar pelo ambiente digital é um retrocesso gigantesco em tempos de tecnologia avançada.
A falta de habilidades básicas de interpretação e de navegação digital evidencia um país que está falhando miseravelmente em preparar seus cidadãos para o presente. Quem dirá para o futuro! Enquanto governos se perdem em debates ideológicos vazios, milhões de brasileiros permanecem prisioneiros de um analfabetismo que já deveria ter sido erradicado há décadas. O Brasil falha em garantir o mínimo para seus cidadãos, e essa falha é gritante, vergonhosa e cruel.
Para elaborar esta coluna, utilizei, dentre outras informações, os dados do portal alfabetismofuncional.org.br.