Os “produtos químicos eternos” são assim chamados porque não se decompõem facilmente no corpo humano ou no ambiente, e neles temos as substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas, ou PFAS, que são um grupo de aproximadamente 15.000 produtos químicos conhecidos usados em centenas de produtos de consumo e comerciais,embalagens de comida para viagem , incluindo espumas anti-incêndio, panelas antiaderentes, roupas resistentes a manchas e cosméticos, Os PFAS são compostos sintéticos, fabricados desde a década de 1930.
A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos- EPA afirmou que PFAS foram encontrados no meio ambiente em todo o mundo, e os Centros de Controle e Prevenção de Doenças descobriram que os produtos químicos podem estar no sangue de 97% dos americanos.
Um dos maiores exemplos de contaminação ao meio ambiente por PFAS ocorreu em bases militares dos Estados Unidos, onde a utilização de espumas antichamas resultou em áreas de solo e água subterrânea contaminadas. Estudos também já detectaram PFAS no sangue de ursos polares, em peixes e outros animais.
Apesar da Convenção de Estocolmo, que restringe o uso de alguns PFAS (PFOA e PFOS), o Brasil ainda não possui uma legislação nacional abrangente sobre estes ativos.
Impactos negativos dos PFAS
Persistência, Toxicidade (Estudos associam PFAS a problemas de saúde como danos ao fígado, câncer renal, problemas no sistema imunológico e disfunção hormonal), Contaminação ambiental( PFAS podem contaminar solos, água e alimentos, representando um risco para a saúde humana e para o ecossistema).
A Agência de Proteção Ambiental dos EUA tomou várias medidas nos últimos anos para reforçar as regulamentações para PFAS, chamando os produtos químicos de uma “questão urgente de saúde pública e ambiental”.
Empresas químicas, incluindo a 3M, Chemours, Corteva e DuPont de Nemours enfrentaram milhares de processos judiciais nos últimos anos por suposta contaminação por PFAS.
O litígio inclui ações judiciais movidas por concessionárias de água que buscam fazer as empresas pagarem para limpar a contaminação por PFAS e reivindicações de danos pessoais por demandantes individuais que alegam que a exposição ao PFAS levou a problemas de saúde, incluindo câncer, disfunção hormonal e colite ulcerativa.
Ano passado, a 3M e as concessionárias de água anunciaram que haviam fechado um acordo de US$ 10,3 bilhões que ajudaria a pagar pela limpeza da água potável. Um acordo semelhante envolvendo a DuPont, a Chemours e a Corteva foi fechado no mesmo ano, no valor de US$ 1,19 bilhão.
Outros processos incluem ações coletivas de consumidores sobre produtos que contêm PFAS, processos movidos por estados sobre danos ambientais à vida selvagem e aos cursos d’água, e processos que buscam forçar empresas a pagar para limpar PFAS em resíduos que vazaram ou foram despejados em águas subterrâneas e rios de fábricas e plantas industriais.
Enquanto isso, a EPA indicou que está avançando com regulamentações que estabeleceriam limites aplicáveis para alguns PFAS na água potável e potencialmente designariam alguns PFAS como perigosos segundo a lei Superfund dos EUA, que estabelece responsabilidade e compartilhamento de custos para limpar locais poluídos.
Países como Estados Unidos, membros da União Europeia e China vêm endurecendo legislações e estabelecendo limites rígidos para uso, emissão e presença de PFAS no ambiente.
Esse movimento global representa uma virada de chave: não se trata mais de “se” o Brasil irá regulamentar os PFAS, mas “quando” e “como”. E, neste contexto, consultorias ambientais e indústrias brasileiras precisam se antecipar.
É necessário um monitoramento mais abrangente para avaliar a extensão da contaminação por PFAS no Brasil.
Apesar da crescente conscientização sobre os riscos dos PFAS, os métodos de análise e monitoramento desses compostos ainda são limitados. Os métodos analíticos atuais são capazes de quantificar apenas cerca de 40 PFAS, quando existem mais de 5 mil, o que representa um grande desafio. Além disso, muitos desses compostos são encontrados em concentrações extremamente baixas, na ordem de picogramas por litro, o que exige equipamentos de alta sensibilidade para detecção.
Empresas de tratamento de água no Brasil já utilizam tecnologias como osmose reversa e carvão ativado para remover PFAS, mas é preciso avançar na pesquisa e desenvolvimento de soluções mais eficazes.
O que pode ser feito
Reduzir o consumo de produtos com PFAS
Optar por produtos sem revestimentos antiaderentes, embalagens reutilizáveis e roupas sem tratamento resistente a manchas.
Apoiar pesquisas
Incentivar estudos sobre a ocorrência, distribuição e impactos dos PFAS no Brasil.
Aprovar legislação
Urge a necessidade de uma política nacional de controle dos PFAS para proteger a saúde pública e o meio ambiente. A nova versão da NBR 10004 da ABNT, com vigência a partir de 2025, já inclui atualizações específicas sobre PFAS na classificação de resíduos sólidos perigosos. A Resolução CONAMA nº 420/2009, que trata da qualidade do solo e áreas contaminadas, está em revisão, com discussões abertas sobre a inclusão de PFAS entre os parâmetros de risco à saúde.