Há um paradoxo curioso e revelador na política brasileira contemporânea. Quanto mais Lula e Bolsonaro se afastam do centro, mais gente se afasta deles. A polarização, esse vício que sustenta nossa vida pública desde 2018, começa a corroer as próprias bases que a sustentam.
De um lado, temos Lula: eleito sob a promessa de conciliação, mas que insiste em flertar com o radicalismo retórico e diplomático. Insiste em defender ditaduras amigas, sabota relações com democracias sólidas, promove uma política externa dúbia, como com sua passividade diante da escalada autoritária na Nicarágua e a bajulação recorrente a autocracias como Rússia e Venezuela. O resultado aparece nas pesquisas: sua aprovação escorrega. A classe média, que já olhava com desconfiança, agora vira as costas com raiva.
Do outro, Bolsonaro. Sem mandato, mas com um megafone digital, resolve apoiar o “tarifaço” de Donald Trump, um movimento que pode quebrar exportadores brasileiros e pulverizar empregos. O ex-presidente, que sempre se vendeu como defensor do agronegócio, agora aplaude um aliado que quer justamente frear as exportações do Brasil. Incoerente? Sim. Perigoso? Muito. Mais uma vez, o “nós contra eles” mostra que é cego até aos próprios aliados.
O alentador é que, nas entrelinhas das últimas pesquisas, cresce o espaço daqueles que se dizem contrários aos dois. Essa fatia, antes tímida, agora começa a ganhar corpo e discurso. Não é apatia, é cansaço. Não é omissão, é recusa ativa a esse teatro de guerra onde todos perdem.
Lula acredita que pode reconstruir o Brasil ignorando o empresariado e os valores liberais. Bolsonaro acha que pode voltar ao poder com uma pauta que flerta com o colapso. Nenhum dos dois parece disposto a aprender com os próprios erros. Millôr Fernandes já dizia: “radicais são pessoas que, quando você está do lado delas, parecem moderadas, e quando você discorda, viram monstros”.
A polarização não é mais um duelo entre opostos. É uma dança autodestrutiva em que os pares se empurram para o abismo, e o país, infelizmente, vai junto. A boa notícia é que uma parte crescente da população se recusa a dançar.
O centro pode não ser o lugar mais barulhento. Mas é, hoje, o único ponto do tabuleiro onde ainda há espaço para o bom senso, para a razão, para o compromisso com o país e não com o aplauso da bolha.Será que haverá alguém, em 2026, capaz de ocupar esse espaço com coragem e consistência?
Se houver, que venha logo. Porque o tempo dos extremos está vencendo, e com ele, vencendo o futuro.