Uma nova pesquisa da World Quality Lab traz um sinal de alerta: o Brasil está se aproximando da metade mais pobre da população mundial. Segundo o estudo, 27,4% dos brasileiros vivem hoje com menos de US$ 6,85 por dia — o equivalente a R$ 665 por mês.
Essa é a linha internacional da pobreza moderada, adotada pelo Banco Mundial. Em outras palavras, quase 60 milhões de brasileiros estão oficialmente em situação de pobreza. Embora os dados mostrem uma melhora em relação a 2022, quando esse índice era de 31,6%, a verdade é que a base da pirâmide continua extremamente vulnerável. A extrema pobreza — que considera uma renda inferior a R$ 209 por mês — ainda atinge quase 10 milhões de brasileiros.
E o mais preocupante é que esses dados vêm acompanhados de uma persistente desigualdade. Os 10% mais ricos do país concentram cerca de metade da renda nacional. Mas o problema não é só de renda — é também de mobilidade social. O estudo mostra que, no Brasil, menos da metade das pessoas nascidas na metade mais pobre da população consegue ultrapassar a renda dos seus pais.
Isso significa que, para milhões de famílias, o destino ainda está amarrado à origem: sem acesso a educação de qualidade, sem emprego digno e com serviços públicos precários, essas pessoas permanecem em ciclos de pobreza que se perpetuam de geração em geração.
Parte dessa melhoria recente veio com a recuperação do mercado de trabalho e o reforço de programas sociais, como o Bolsa Família. Mas aqui está o ponto crítico: programas de transferência de renda aliviam a pobreza imediata, mas não substituem políticas de crescimento econômico sustentável e geração de oportunidades reais.
A saída definitiva da pobreza exige emprego, produtividade, investimento e mobilidade social — e tudo isso depende de um ambiente de negócios mais dinâmico, de uma economia mais aberta e de políticas públicas mais eficientes.
A pergunta que fica é: o que estamos fazendo para que a próxima geração tenha mais chance de subir na vida?
Cortar gastos obrigatórios sem reformar o sistema, aumentar impostos sem melhorar os serviços públicos e prometer crescimento via consumo financiado por dívida pública, não resolve. Apenas empurra os problemas para a frente.
Em economia, não existe alquimia. Renda não se cria por decreto. Para reduzir a pobreza e combater a desigualdade de forma estrutural, o Brasil precisa escolher o caminho difícil: o do crescimento com responsabilidade fiscal, produtividade e inclusão. Esse é o verdadeiro pacto social que precisamos construir.