Enquanto vídeos e postagens da oposição ganham fôlego nas redes sociais, o governo patina em respostas frágeis e sem timing para combater um dos escândalos mais cruéis dos últimos tempos: a fraude contra aposentados e pensionistas do INSS. A demora em agir para sanar a questão escancara uma fragilidade preocupante.
O silêncio é terreno fértil para o desgaste político. Prova disso é a fala do presidente nacional do PT, senador Humberto Costa (PT-PE), em entrevista ao Estadão/Broadcast. Segundo ele, a resposta do governo será crucial para tentar estancar a sangria na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Muito provavelmente”, disse o senador, “o governo terá que colocar dinheiro do próprio bolso”, leia-se, do bolso do contribuinte, “para ressarcir as vítimas dos descontos indevidos.”
A solução está sob análise: um crédito extraordinário, que encontra resistência no Ministério da Fazenda, ou o remanejamento de recursos do Orçamento da União. Nenhuma das alternativas, no entanto, parece trazer alívio imediato para quem tem sido vítima de um esquema que retira parte da aposentadoria, centavo a centavo, mês a mês.
Enquanto isso, a base governista, em um movimento coordenado, tenta evitar a criação de uma CPMI para investigar as fraudes. Mesmo arguido pela Ministra Gleisi Hoffmann, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, se manteve firme: a CPMI terá andamento no Congresso Nacional. Gleisi correu para o Planalto e ouviu de Lula e de Sidônio Palmeira, o ex-marqueteiro, agora Secretário de Comunicação do Planalto, que será inevitável para o governo encarar a abertura da Comissão no parlamento.
Diante disso, e com o desgaste crescente e a pressão da opinião pública, o governo agora tenta mudar de estratégia: quer participar da CPMI indicando o presidente ou o relator da comissão. Um movimento que pode ser interpretado como tentativa de controlar os rumos da investigação e mitigar os danos políticos. Afinal, estar à frente da CPMI garantiria maior poder de agenda e controle sobre a narrativa.
A guerra de narrativas
A instalação da CPMI promete ser um campo de batalha onde governo e oposição travarão uma guerra de narrativas intensa. De um lado, a base governista buscará minimizar os danos e associar as fraudes a desvios pontuais, remeter sua origem ao governo Bolsonaro, tentando controlar os depoimentos e o direcionamento das investigações. De outro, a oposição virá com artilharia pesada, explorando cada falha de fiscalização e cada caso de prejuízo aos aposentados como prova de incompetência e descaso.
A tentativa do governo de ocupar a presidência ou a relatoria é, na prática, a busca pelo controle da pauta e dos holofotes. Em uma CPMI, a ordem dos depoimentos, a convocação de testemunhas e o tom dos questionamentos fazem toda a diferença. Quem comanda os trabalhos direciona a narrativa, estabelece o ritmo e, principalmente, define os alvos.
Não é difícil imaginar sessões inflamadas, transmissões ao vivo e uma enxurrada de postagens nas redes sociais em tempo real. A batalha pela opinião pública será intensa, e o Planalto parece estar ciente disso. A mudança de estratégia de tentar enterrar a CPMI para agora tentar controlá-la, revela o quanto o governo compreende o potencial de desgaste que o tema pode gerar.
Mas isso será suficiente? A oposição já sinalizou que não vai recuar, e o governo, ao assumir protagonismo na comissão, corre o risco de expor ainda mais suas fragilidades. A batalha está apenas começando, e o tabuleiro político, mais uma vez, se agita em torno daqueles que mais sofrem: os aposentados.
Os próximos dias serão decisivos para entender se o governo vai, enfim, sair do campo da retórica e partir para a ação. Caso contrário, a conta da passividade será cobrada nas urnas. E, como sabemos, o eleitor não esquece