Vereador quer passar a conta das lixeiras para o cidadão

Siga no

A proposta inclui a adoção de lixeiras públicas por empresas, estabelecimentos comerciais e até por cidadãos comuns (Foto: Reprodução/Google Street View)

Compartilhar matéria

Um projeto de lei que promete revolucionar a limpeza urbana em Belo Horizonte foi aprovado pela Comissão de Meio Ambiente, Defesa dos Animais e Política Urbana. O PL 109/2025, de autoria de Neném da Farmácia (Mobiliza), propõe um modelo de responsabilidade compartilhada, onde Prefeitura, comunidade e setor privado uniriam forças para dar um tapa no visual da capital mineira. Até aí, tudo muito bonito no papel. Mas, como sempre, o diabo mora nos detalhes.

A proposta inclui a adoção de lixeiras públicas por empresas, estabelecimentos comerciais e até por cidadãos comuns. A ideia é que esses ‘padrinhos do lixo’ cuidem da instalação e manutenção dos equipamentos em locais visíveis e de fácil acesso. Será um bom negócio? Talvez. Mas também um convite elegante para que o contribuinte que já paga impostos, tenha umas “despesinhas” a mais.

Pense comigo: enquanto a Prefeitura transfere a responsabilidade da limpeza para o cidadão e o empresário, libera também o uso do espaço urbano para publicidade. Ou seja, ao invés de ampliar o investimento em infraestrutura pública, opta-se por terceirizar a tarefa, adornando as calçadas com propagandas. E o argumento de que isso não ‘sobrecarrega os cofres públicos’ é falacioso. Não sobrecarrega porque não há investimento. É a famosa solução “meia-boca” que equilibra o problema nas costas de quem pode pagar por ele.

Além disso, a tão defendida ‘responsabilidade compartilhada’ é, na prática, um alívio de responsabilidade para o poder público. A administração pública passa o chapéu e espera que o cidadão, aquele mesmo que já paga seus impostos religiosamente, adote uma lixeira e ainda faça propaganda gratuita para a prefeitura de que está ‘colaborando com a cidade’.

E o discurso de educação ambiental? Ah, esse é sempre o enfeite preferido dos projetos de lei. Nada contra campanhas educativas, pelo contrário. Mas o que se percebe é que a ideia de conscientização surge como uma justificativa para maquiar a ausência de políticas públicas de fato estruturais. Se quisermos mesmo uma cidade mais limpa, é preciso ampliar a coleta seletiva, aumentar a fiscalização e investir em tecnologias de tratamento de resíduos. E isso, caro leitor, não se resolve com anúncios em latas de lixo.

No fim, o PL 109/2025 vem revestido de uma boa ideia. Mas é, acima de tudo, um reflexo da gestão que prefere empurrar a responsabilidade para o cidadão. E Belo Horizonte segue limpando as ruas com uma mão e transferindo responsabilidades com a outra.

Compartilhar matéria

Siga no

Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

Webstories

Mais de Entretenimento

Mais de Colunistas

Senado aprova nova regra de lucros e dividendos: empresas do simples devem pagar a maior parte da conta

Minas entra na lista dos melhores destinos de 2026: eu te conto o motivo!

COPASA: o fim do referendo e o início da razão

Chuvas em Belo Horizonte: o alerta que se repete

No baralho da política mineira, as cartas se embaralham de novo

A segurança pensada em Brasília com o Brasil fora da discussão

Últimas notícias

Acordo que define reassentamento de famílias às margens da BR-381 será homologado nesta sexta

Exportações brasileiras batem recorde em outubro, apesar de tarifaço

Nos pênaltis, Atlético vence o Flamengo e se classifica na Copa do Brasil Sub-20

Atlético: destaques com Sampaoli viram desfalque para partida contra o Sport

Cruzeiro perde titular para enfrentar o Fluminense

Atlético está matematicamente livre do rebaixamento? UFMG responde

Eventos em BH terão restrições nos dias de aplicação do Enem

Muito quente! 2025 deve bater recorde de calor, diz OMM

Minas Day: Zema destaca liderança de Minas na transição energética