O presidente Lula convocou seus ministros para uma espécie de ensaio geral: todos precisam cantar a mesma música, no mesmo tom, sem desafinar. A ordem é clara: alinhar discurso em torno dos projetos do governo e dar consistência política à narrativa oficial. Não basta governar, é preciso comunicar.
Até aí, nada de novo. Governos sempre buscam unidade na mensagem, afinal, ruídos internos alimentam a oposição e confundem a sociedade. Mas há nuances a serem observadas. Lula delimita quem fala e quem só escuta: ele próprio, Rui Costa (Casa Civil), Sidônio Palmeira (Secom) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). O círculo se fecha em torno de vozes escolhidas, sinalizando que centralização virou método.
O encontro também servirá para a apresentação de um novo slogan de governo. “União e Reconstrução” sai de cena para dar lugar a algo que inclua “povo brasileiro” e “soberania”. A mudança semântica não é trivial. Num país polarizado, palavras funcionam como bandeiras. Falar em “povo brasileiro” é aceno à coletividade, mas também tentativa de resgatar o velho imaginário petista do “nós contra eles”: o povo versus as elites, a soberania contra pressões externas.
Se a reconstrução foi o mote inicial, mirando no legado de Bolsonaro e no caos herdado, agora a ênfase está em identidade e autodeterminação. É mais simbólico do que prático, mas slogans têm essa função: emocionar antes de convencer.
O risco da unanimidade fabricada
Aqui está o ponto crítico: quando todos repetem a mesma fala, corre-se o risco de transformar diversidade de visões em obediência automática. Um governo democrático deve aceitar vozes dissonantes entre seus próprios quadros, desde que alinhadas a um projeto comum. O excesso de disciplina pode soar como artificialidade e distanciamento.
Além disso, slogans não substituem políticas públicas. O povo brasileiro precisa de soberania no prato, no emprego e na renda, precisa sentir que os projetos discutidos no Planalto chegam à sua vida cotidiana, não apenas à propaganda institucional.
A reunião com líderes no Congresso completa o desenho, não se trata só de marketing, mas de estratégia de sobrevivência. A base parlamentar está longe de ser sólida, e o governo sabe que precisa de discurso coeso para negociar apoio. Neste sentido, o novo slogan é menos uma marca de governo e mais uma senha de mobilização.
Lula aposta na unidade discursiva como arma política. É legítimo, faz parte do jogo, mas convém lembrar. Slogans podem ecoar nos microfones, mas são os resultados concretos, inflação controlada, emprego, segurança, saúde, que permanecem na memória coletiva. O governo pode até mudar de lema, mas o julgamento final será feito pelo mesmo povo brasileiro que o slogan invoca.