Governo Lula pode alterar slogan após reunião ministerial nesta terça-feira

Siga no

Ricardo Stuckert/PR

Compartilhar matéria

O presidente Lula convocou seus ministros para uma espécie de ensaio geral: todos precisam cantar a mesma música, no mesmo tom, sem desafinar. A ordem é clara: alinhar discurso em torno dos projetos do governo e dar consistência política à narrativa oficial. Não basta governar, é preciso comunicar.

Até aí, nada de novo. Governos sempre buscam unidade na mensagem, afinal, ruídos internos alimentam a oposição e confundem a sociedade. Mas há nuances a serem observadas. Lula delimita quem fala e quem só escuta: ele próprio, Rui Costa (Casa Civil), Sidônio Palmeira (Secom) e Gleisi Hoffmann (Relações Institucionais). O círculo se fecha em torno de vozes escolhidas, sinalizando que centralização virou método.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

O encontro também servirá para a apresentação de um novo slogan de governo. “União e Reconstrução” sai de cena para dar lugar a algo que inclua “povo brasileiro” e “soberania”. A mudança semântica não é trivial. Num país polarizado, palavras funcionam como bandeiras. Falar em “povo brasileiro” é aceno à coletividade, mas também tentativa de resgatar o velho imaginário petista do “nós contra eles”: o povo versus as elites, a soberania contra pressões externas.

Se a reconstrução foi o mote inicial, mirando no legado de Bolsonaro e no caos herdado, agora a ênfase está em identidade e autodeterminação. É mais simbólico do que prático, mas slogans têm essa função: emocionar antes de convencer.

O risco da unanimidade fabricada

Aqui está o ponto crítico: quando todos repetem a mesma fala, corre-se o risco de transformar diversidade de visões em obediência automática. Um governo democrático deve aceitar vozes dissonantes entre seus próprios quadros, desde que alinhadas a um projeto comum. O excesso de disciplina pode soar como artificialidade e distanciamento.

CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE

Além disso, slogans não substituem políticas públicas. O povo brasileiro precisa de soberania no prato, no emprego e na renda, precisa sentir que os projetos discutidos no Planalto chegam à sua vida cotidiana, não apenas à propaganda institucional.

A reunião com líderes no Congresso completa o desenho, não se trata só de marketing, mas de estratégia de sobrevivência. A base parlamentar está longe de ser sólida, e o governo sabe que precisa de discurso coeso para negociar apoio. Neste sentido, o novo slogan é menos uma marca de governo e mais uma senha de mobilização.

Lula aposta na unidade discursiva como arma política. É legítimo, faz parte do jogo, mas convém lembrar. Slogans podem ecoar nos microfones, mas são os resultados concretos, inflação controlada, emprego, segurança, saúde, que permanecem na memória coletiva. O governo pode até mudar de lema, mas o julgamento final será feito pelo mesmo povo brasileiro que o slogan invoca.

Compartilhar matéria

Siga no

Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

Webstories

Mais de Entretenimento

Mais de 98

Infância conectada

Você sabe quanto custa o seu mês?

Você precisa de mais roupas ou de mais clareza sobre seu estilo?

A força invisível das marcas vem de dentro

Bicicleta dobrável: mobilidade sem complicação

Inadimplência recorde desafia otimismo dos dados oficiais

Últimas notícias

Incêndio faz moradores saírem de casa às pressas no bairro Nova Suíça, em BH

Polícia encontra fábrica que adulterava bebidas em SP e está ligada a mortes por metanol

‘Águas do Saber’: Estudantes escrevem livros sobre Brumadinho e encantam com criatividade e imaginação

Médico e equipe de enfermagem são denunciados por homicídio após omissão de socorro em UPA

Governo estuda elevar IOF após derrota no Congresso

A tecnologia não substitui o humano, amplia o humano

Brasil mostra evolução sob comando de Ancelotti e goleia Coreia do Sul

Caso Deloitte expõe riscos do uso sem supervisão da inteligência artificial

Farpas entre Haddad e Tarcísio após queda da MP 1303