Minas Gerais não está ameaçada com o avanço de criminosos vindos da fronteira do estado com o Rio de Janeiro, pós Operação Contenção.
A análise partiu do Secretário de Estado de Segurança Pública de Minas, Rogério Greco. Em entrevista ao 98 Talks desta terça-feira (04/11), Greco afirmou que tendência é de migração dos criminosos que atuam em Minas para o estado fluminense. “Nossa inteligência tem feito um levantamento constante, diário. Não temos indícios da migração de traficantes vindo para cá. O que temos é o movimento contrário. Temos 50 alvos principais aqui em Minas. Destes, 45 estão no Rio [atualmente”, explica.
Greco destacou, ainda, a integração das forças de segurança e inteligência de Minas Gerais com outros estados, pós Operação Contenção. “Nosso governador [Romeu Zema] tem um relacionamento muito bom com os governadores de outros estados. Ele esteve no Rio, prestou apoio e solidariedade ao [governador] Cláudio Castro”, detalhou. “Aqueles que querem o bem da sociedade e da segurança pública estão unidos neste momento”, destacou Greco.
O secretário criticou, entretanto, o trabalho de fiscalização de fronteiras brasileiras, sob responsabilidade do governo federal. “Quando o tráfico de drogas, de armas, é feito em um comércio “formiguinha”, é difícil controlar uma fronteira. O Brasil tem 17 mil km de fronteira seca. Temos pontos mais sensíveis, que exigem uma fiscalização mais dura, ostensiva. E isso não acontece no Brasil”.
Crítica à ‘ADPF das Favelas’
Em fala ao Paulo Leite, Greco criticou a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 635 — “ADPF das Favelas”. Proposto pelo PSB em 2019, e homologado em junho pelo Ministro Edson Fachin, dispositivo tem o objetivo de tentar reduzir a letalidade em ações policiais nas favelas do Rio.
“A ADPF 635 acabou com a Segurança Pública no Rio de Janeiro, e acabou com a segurança pública no Brasil também. Porque os traficantes todos começaram a migrar para o Rio, pela facilidade que eles tiveram naquele momento, de ficar nas comunidades. Pagando inclusive aluguel para os integrantes das facções às quais eles pertenciam”, afirmou Greco.
Aquilo ali foi uma vergonha. Eles repetiram exatamente o que [Leonel] Brizola fez em 83, quando assumiu o governo do Rio vindo do exílio. A primeira coisa que ele fez foi proibir o acesso da polícia do Rio às comunidades. Com essa decisão, as facções cresceram de uma maneira impressionante”, completou.
Lula na mira
O secretário não poupou, ainda, críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), classificado por ele como “amigo de narcopresidentes”.
“A gente vê declarações, infelizmente, de um presidente da República que compara o traficante ao usuário. Que chama o traficante de vítima”, afirmou Greco, em alusão à declarações recentes de Lula. “Temos um presidente da república que é amigo de narcopresidentes. Você vê a situação do Maduro na Venezuela, a cabeça dele está valendo U$ 50 milhões. Você tem um presidente da Colômbia que vem ao Brasil e defende abertamente a liberação da cocaína. Então como você quer fazer um combate duro, sério, efetivo, se temos uma relação com esses governos que são “narcopaíses”.
Rogério Greco acompanhou Zema nas críticas ao governo federal, destacando a inação da Polícia Federal na Operação Contenção. “Ouvimos há pouco que o governo federal vai enviar uma perícia da Polícia Federal para o Rio de Janeiro, como se a polícia do Rio fizesse um trabalho insuficiente”.
“Então você vê a polícia oprimida pelo Governo Federal, com a sensação de que eles fizeram alguma coisa errada. E eles não fizeram. Foi uma operação que não teve troca de tiros dentro da comunidade, foi praticamente 100% dentro da mata”, explicou.
“Problema nacional”
Para Rogério Greco, o combate ao narcotráfico é um problema que não se restringe ao solo mineiro. “Não é um problema de Minas Gerais. É um problema do país inteiro”.
“Antigamente tínhamos duas principais facções criminosas. Hoje temos 90 espalhadas pelo país. É uma luta constante, e é por isso que precisamos de um apoio do governo federal. Não isso que está acontecendo”, completa.
O olhar sobre Minas, entretanto, é positivo. “Com todos os problemas, a gente ainda consegue ser o segundo estado mais seguro da nação. Temos sim, facções, temos presos faccionados, mas fazemos um trabalho muito duro quanto a isso. O crescimento [das facções] foi pífio no Estado, mas não podemos dizer que não houve. O estado faz um combate muito duro, muito efetivo quanto a isso”.
