De 2020 a 2024, 291 mil cirurgias bariátricas foram feitas no Brasil. Apenas 31 mil foram pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Isso significa que menos de 1% dos pacientes com indicação consegue operar.
“Existe um abismo muito grande entre a necessidade da cirurgia e o real acesso a essa operação. E quais são as principais razões? A principal delas é a falta de informação. Muita gente acha que poderia beneficiar da cirurgia, mas apenas como último recurso do tratamento da sua obesidade. Ou seja, pessoas ficam tratando, tratando e deixam a operação como o último degrau. Isso é um erro muito grande, não só de pacientes, mas também da própria classe médica”, destaca o cirurgião e secretário da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica, René Berindoague.
Segundo ele, outro obstáculo é a lentidão do SUS, com filas longas e poucos centros habilitados. Nos planos de saúde, as dificuldades burocráticas ainda existem, mas vêm diminuindo. Além disso, o preconceito contra o obeso como alguém “sem força de vontade” ainda atrapalha a compreensão da obesidade como doença.

Novos critérios para operar
Neste ano, o Conselho Federal de Medicina mudou as regras, permitindo a cirurgia também para pacientes com IMC entre 30 e 35 com comorbidades graves. Antes, era preciso estar em um grau mais grave de obesidade.
Para René Berindoague, a mudança representa justiça em saúde: tratar a obesidade mais cedo evita complicações como infartos, derrames e amputações provocadas pelo diabetes. “Outro ponto muito importante é que isso vai aumentar o número de cirurgias realizadas no Brasil. E isso tem efeito positivo porque reduz custos da saúde a longo prazo. Vamos tratar a obesidade antes que ela gere problemas como infartos, derrames ou amputações causadas pelo diabetes”, observa o médico.
Bariátrica no SUS
Na rede pública, entretanto, os critérios continuam rígidos. “Pessoas com obesidade grave, IMC de 50, já têm indicação para avaliação. Outros casos, de IMC acima de 35 com comorbidades associadas, vão ser acompanhados. E outros casos também serão acompanhados nos outros pontos da rede, tanto na atenção primária quanto na atenção ambulatorial especializada, durante dois anos”, detalha a coordenadora de Alimentação Saudável da Secretaria de Estado de Saúde de Minas, Carolina Guimarães Marra.

Preparo psicológico
A psicóloga Paula Lamego lembra ainda de outro efeito positivo da bariátrica: combater estigmas. “O preconceito imposto pelo olhar das pessoas e da sociedade, como rótulos de preguiçosos, folgados, sem força de vontade, pouco intelectualizados, a falta de acessibilidade em transportes públicos e locais que não são aptos para o peso da pessoa.”
Para a psicóloga, esse aspecto precisa ser trabalhado antes da decisão pela operação, junto com o preparo clínico.