O calendário de 2026 já tem um enredo que preocupa economistas e gestores: serão 11 feriados nacionais oficialmente decretados, alguns deles com potencial de se transformarem em longos “feriadões” graças às tradicionais emendas aos finais de semana. Some-se a isso a Copa do Mundo, aquele momento em que o país, mesmo sem feriado, praticamente entra em recesso não oficial, e temos um quadro que mistura festa, lazer e, inevitavelmente, perdas para a economia.
O custo invisível dos dias parados
A matemática é simples, mas pesada. Cada dia útil perdido representa bilhões de reais em produção não realizada. Indústrias deixam de operar em plena capacidade, serviços reduzem jornada, repartições públicas fecham as portas. Não é só a fábrica que atrasa a entrega ou o escritório que suspende atendimentos; é toda a cadeia, fornecedores, transportadoras, logística, que entra em compasso de espera.
Federações do comércio e da indústria trazem dados de que, a cada feriado prolongado, o PIB diário brasileiro sofre retrações expressivas. Se o país tem 252 dias úteis em média, perder 15 ou 20 para folgas adicionais significa cortar algo em torno de 5% da capacidade produtiva anual. Em uma economia que já luta para crescer 2% ao ano, a conta não fecha.
O paradoxo do lazer
Há quem defenda que os feriados funcionam como válvula de escape: turismo, hotelaria, bares e restaurantes ganham fôlego, compensando parte das perdas da indústria e do comércio tradicional. É verdade. Balneários lotam, resorts do Nordeste batem recordes de reservas e companhias aéreas festejam o aumento de passageiros.
Mas é preciso olhar com lupa: esses setores são relevantes, mas não têm peso suficiente para equilibrar a balança. O faturamento adicional do turismo e do lazer não cobre a redução na indústria automotiva, na construção civil ou no setor de tecnologia, por exemplo. O resultado líquido é negativo.
Se os feriados oficiais já preocupam, a Copa do Mundo joga sal na ferida. Basta lembrar que os jogos da seleção transformam dias úteis em meio-expedientes improvisados. Empresas liberam funcionários, escolas suspendem aulas, repartições públicas entram em recesso parcial.
Não se trata de desprezar o que chamam de paixão nacional, sabemos que o futebol é parte da identidade do brasileiro. Mas quando cada partida interrompe o expediente, cria-se um “feriado paralelo” que não entra na contabilidade oficial, mas pesa nas estatísticas. No balanço, a Copa pode acrescentar mais dias de baixa produtividade ao já combalido calendário.
O grande desafio é que o Brasil segue sem uma política consistente para equilibrar feriados e produtividade. Países europeus concentram datas comemorativas em fins de semana ou estabelecem compensações de jornada. Aqui, seguimos na lógica do improviso: se cai na terça, emenda-se a segunda; se cai na quinta, mata-se a sexta. É o país da gambiarra aplicada ao calendário.
Para o setor público, há outro problema: a arrecadação despenca justamente em períodos de maior necessidade de caixa, enquanto os gastos com turismo subsidiado, segurança e infraestrutura de viagem aumentam. O Tesouro sente o impacto.
Não se trata de defender um país sem feriados. Eles são essenciais para a saúde mental, para o convívio familiar, para a vida cultural. Mas é preciso racionalidade. O Brasil não pode continuar cultivando a imagem de “paraíso das folgas” enquanto luta para sustentar o crescimento econômico e equilibrar suas contas.
O calendário de 2026 será um teste. Ou transformamos feriados em oportunidade, planejando turnos, escalas e produtividade ajustada, ou pagaremos a conta em PIB encolhido e crescimento frustrado. A festa é legítima, mas o país precisa lembrar que, entre um gol da seleção e um brinde no bar da esquina, há uma economia que não pode parar.