Romeu Zema, até então um político de fala contida, interiorana e jeito de gestor discreto, resolveu assumir a roupa de presidenciável. No lançamento de sua pré-candidatura ao Planalto, pelo Partido Novo, o governador de Minas usou retórica de campanha: prometendo “varrer o PT do mapa”, criticando Lula e até Alexandre de Moraes, e defendendo que o Brasil abandone o Brics. Foi o batismo de fogo para iniciar a medição do termômetro político do Brasil.
O gesto e o recado
O discurso de Zema carrega simbolismo, ele quer ampliar sua imagem de “bom gestor mineiro”, de um governador que arrumou as contas do estado. Quer vestir o uniforme de combatente da direita antipetista, ecoando uma insatisfação ainda viva em parte expressiva do eleitorado. Ao usar Minas como exemplo, reforçou sua marca: “Se consertei Minas, posso consertar o Brasil”.
Zema, porém, tem algumas questões a resolver. O Partido Novo é, eleitoralmente, um nanico. Não tem tempo de TV robusto, não tem capilaridade nacional e, por enquanto, não garante a musculatura necessária a uma campanha presidencial competitiva. Para Zema, isso significa duas saídas: ou constrói alianças amplas, o que contraria a lógica purista do Novo, ou se arrisca a ser candidato de vitrine, sem chances reais de vitória.
A outra dificuldade é de ordem política. O campo conservador já tem atores de peso. Jair Bolsonaro, mesmo desgastado, continua sendo referência para milhões de eleitores. Tarcísio de Freitas desponta como herdeiro natural desse capital político em São Paulo. Zema precisa encontrar um caminho próprio, ou será apenas mais um nome a disputar fatias de um eleitorado saturado.
É verdade que o antipetismo segue sendo um fator mobilizador. Mas a experiência de 2022 mostra que ele não é suficiente para garantir a vitória. O eleitorado busca respostas concretas para problemas imediatos: emprego, saúde, segurança pública. “Varrer o PT do mapa” pode render manchetes e palmas em comícios, mas não substitui um projeto claro de desenvolvimento nacional.
Zema pode surpreender se conseguir transformar sua imagem de gestor austero em uma narrativa nacional que vá além do antipetismo. Mas o risco é grande: sem alianças, sem partido estruturado e com concorrentes fortes na mesma faixa ideológica, sua candidatura pode se tornar apenas mais uma voz no coro da direita, sem eco suficiente para chegar ao segundo turno.
O discurso de pré-campanha foi barulhento, mas ainda falta saber se será música para os ouvidos da maioria, ou apenas mais um solo perdido no carnaval da política brasileira.