Os boletos estão batendo à porta, e eles não se preocupam se é ou não Carnaval. Agora, o ano obrigatoriamente começa para valer. Não há mais espaço no noticiário dedicado à folia e, mais do que nunca, a vida dependerá de nós.
O governo Lula tem uma série de prioridades a serem resolvidas.
A aprovação do orçamento da União, que depende do bom ou mau humor dos políticos, particularmente os da oposição, está atrelada ao tradicional toma lá, dá cá, comum na relação entre os poderes e tão danoso para o país. Esse orçamento deve ser votado em uma comissão mista no próximo dia 17 de março, para depois seguir ao plenário do Congresso Nacional.
Trata-se de um governo que quer estimular o crédito, mas que não pode se esquecer de que esse estímulo apresenta uma conta no futuro — conta cara para a vida dos brasileiros. Afinal, ao estimular o crédito, aumenta-se o endividamento das famílias. E hoje, o que mantém a economia em um patamar bem próximo do medíocre, mas dentro do razoável, é justamente o baixo endividamento das famílias.
Há também a reforma da tabela do Imposto de Renda, promessa de campanha de Lula. Ele deixou claro que alteraria a faixa de isenção, mas, até agora, o projeto patina nos corredores da Câmara dos Deputados.
E não podemos esquecer a batalha que o governo enfrenta na tentativa de combater a inflação dos alimentos.
O governo ignora que não pode interferir em um processo ditado pelo dia a dia, pelas atividades comerciais, pela lógica da compra e venda, da oferta e da demanda. Talvez alguém precise contar aos inquilinos do Planalto que, se um produto custa “X” no mercado nacional e “2X” no mercado internacional, e se o objetivo de um negócio é ser sustentável, a opção lógica será vender para quem paga mais.
Ou será que não? Será que o bom, abnegado e resignado empresário deveria escolher o menor preço apenas para contribuir com o bem do país?
Ora, será que o patriótico governo teria esse mesmo raciocínio ao cobrar impostos e taxas?
Pensar assim é andar na contramão do livre comércio.
A oferta de alimentos não pode ser solucionada com malabarismos ou com uma varinha de condão. É preciso melhorar a qualidade das nossas estradas, garantir maior segurança jurídica aos contratos — que hoje estão ao bel-prazer de um Judiciário pouco transparente em suas decisões —, diminuir e racionalizar a carga tributária e, principalmente, parar com discursos de criminalização do produtor rural.
Para finalizar essa rápida análise dos rumos do governo federal, é necessário lembrar da reforma ministerial anunciada por Lula.
A dança das cadeiras já começou com a saída de Nísia Trindade do Ministério da Saúde, dando lugar a Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais.
Gleisi Hoffmann, presidente nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), será a próxima ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, assumindo o cargo a partir do próximo dia 10 de março. Sua habilidade para essa função é questionada tanto por apoiadores quanto por opositores do governo. Definitivamente, a atual presidente do PT não é um primor na condução das relações políticas e institucionais. Isso não é segredo para ninguém.
Lula também considera indicar Guilherme Boulos para a Secretaria-Geral da Presidência, pasta responsável pela interlocução do governo com movimentos sociais. Boulos, que já foi líder do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), é visto como um nome forte para fortalecer esse diálogo.
Nos bastidores políticos em Brasília, fica clara a intenção do governo de dar uma guinada mais à esquerda na composição de seus ministérios. No entanto, esse mesmo governo não pode se esquecer de que, dentro do Congresso Nacional, quem manda é o centrão, e essa mudança pode desagradar esse setor.
Olhando para o governo de Minas, também há muitas questões a serem resolvidas.
A relação com a Assembleia Legislativa e a necessidade de definir o destino do Propag (Programa de Ajuste do Pagamento das Dívidas dos Estados com a União) são temas urgentes. Além disso, será preciso discutir privatização, terceirização ou a transformação em corporação das empresas estatais, um assunto espinhoso para os deputados de oposição, que temem a pressão das corporações.
Acontece que o Propag é um projeto fruto da articulação política do atual presidente da Assembleia, o deputado Tadeuzinho, que se empenhou bastante, junto ao senador Rodrigo Pacheco, para que o programa fosse aprovado no Congresso e sancionado por Lula.
Se o programa é um “filho de Tadeu”, ele terá que se esforçar por sua aprovação na Assembleia de Minas.
Tudo isso precisaremos entender para saber para onde vamos caminhar.
Há também o impasse da concessão das rodovias na região metropolitana (MG-10, MG-424 e LMG-800), com a criação de 13 praças de pedágio, medida que enfrenta enorme resistência por parte dos prefeitos da região e dentro da Assembleia Legislativa.
Será árduo o trabalho do secretário de Governo, Marcelo Aro, na condução dessas negociações políticas.
Por fim, após o bem-sucedido carnaval na capital, surge uma questão para a Prefeitura de Belo Horizonte.
Desde o dia 1º de janeiro, com a posse à distância do prefeito Fuad Noman, persistem dúvidas sobre sua recuperação. Fica cada vez mais evidente que, ao sair do hospital, Fuad precisará ser internado em uma clínica para reabilitação motora e cardiorrespiratória. Especialistas apontam que seu tempo de tratamento será longo.
Então, como ficará a definição de quem assume de fato a prefeitura?
O prefeito em exercício, Álvaro Damião, esbanjou felicidade e entusiasmo pelo cargo durante as festividades do carnaval, acendendo o alerta sobre as definições de poder dentro da PBH.
Teremos uma prefeitura com as feições de Fuad, aguardando sua recuperação, ou Damião dará sua própria identidade à gestão, com seu estilo e sua assinatura política?
Agora, o ano realmente começa, e, gostemos ou não, a política e os políticos têm uma interferência enorme em nossas vidas.
Como são remunerados pelos impostos que pagamos, devem ser obrigados a pensar no que é melhor para todos, para o conjunto da sociedade, e não apenas para o grupo que os elegeu, para seu campo ideológico ou para seu partido.
Feliz ano-novo para todos.