Nesta quinta-feira (6/3), o governo anunciou um arsenal de medidas para conter o preço dos alimentos no país. Esquece-se, porém, que essas medidas foram anunciadas muito mais pelo desespero que bateu à sua porta, em razão da queda de popularidade do presidente, do que pela real necessidade de conter os preços. Essa queda tem muito mais a ver com o destempero do presidente e o baixo volume de projetos apresentados pelo Planalto.
Acontece que o preço dos alimentos virou um mote do presidente em mais uma de suas tentativas de responsabilizar alguém pelo pouco sucesso do governo.
Hoje, conversei com profissionais do agronegócio e com supermercadistas para tentar entender qual será o impacto dessas medidas. O que pude constatar é que elas são insuficientes para a redução dos preços dos alimentos.
Os especialistas com quem conversei foram unânimes em afirmar que as medidas não terão o efeito esperado.
E por que não terão?
Carne, café e açúcar têm pouco impacto quando se zera a alíquota de importação. O Brasil é o maior produtor desses produtos, e o volume de importação é muito pequeno. Significa quase nada zerar as alíquotas, pois isso não terá impacto direto nos preços.
Óleo de girassol e de palma, produtos pouco consumidos no país e que fazem parte da lista de itens com alíquota de importação zerada, estão com preços em alta no mercado externo. Por essa razão, essa medida também não impactará a redução dos preços dos alimentos.
A redução das alíquotas de importação pode, em um primeiro momento, parecer positiva, mas não reduzirá a inflação dos alimentos. Em um país que é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, o volume de importação é pouco representativo.
O governo também anunciou que pretende fortalecer os estoques reguladores da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Para isso, precisaria comprar produtos para aumentar os estoques.
E o que isso significa?
O governo, ao entrar no mercado para comprar produtos, acaba elevando seus preços. A velha regra da oferta e da demanda se impõe: uma medida que supostamente deveria conter a inflação dos alimentos pode, na verdade, torná-la ainda maior.
Entre as medidas anunciadas está o estímulo à produção, no próximo Plano Safra, de feijão e arroz, itens principais da cesta básica. No entanto, arroz e feijão estão com preços em queda, e tais medidas só terão efeito na próxima safra, que será plantada no próximo ano.
As medidas anunciadas são ineficientes porque o governo não consegue entender que a realidade da produção e distribuição agrícola no país é muito mais afetada pela baixa qualidade da infraestrutura de escoamento, por leis restritivas, pela insegurança jurídica no ambiente de negócios e por uma fiscalização guiada por interesses corporativos e ideológicos, do que por medidas pontuais, como a redução de alíquotas de importação ou o aumento de estoques reguladores — que deveriam ser uma prática constante, e não uma solução emergencial.
Além disso, promessas de soluções futuras dependem de fatores externos que, muitas vezes, fogem do controle de governantes e produtores.
Para a redução da inflação no país, o governo precisaria anunciar medidas que contemplassem o ajuste fiscal e a drástica redução dos gastos. Mas isso, convenhamos, é pedir muito — e esperar pelo impossível.