O Brasil do like: um vídeo com dancinha vale mais que uma política pública

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Um país não se administra com reels. A dívida pública não é paga com viralização.(Foto:freepik.com)

Vivemos tempos em que a política virou entretenimento e o debate público, um reality show de curtidas. Uma geração inteira de políticos e eleitores que parece mais interessada em viralizar no TikTok do que em compreender os pilares da cidadania, os desafios da gestão pública ou a seriedade de uma boa política fiscal. 

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Hoje, políticos desfilam pelas redes como influencers de si mesmos, fazendo discursos inflamados para aplausos instantâneos, mesmo que completamente desconectados da realidade legislativa ou administrativa. Vale mais o corte de vídeo bem editado do que a emenda bem redigida. Enquanto isso, o eleitor, em vez de cobrar propostas concretas, compartilhar memes e bate palmas para frases de efeito. “Lacrou!”, e pronto, está eleito.

Um futuro mal construído 

Esse descompromisso com o futuro revela mais do que alienação; é sintoma de uma cultura política rasa, que trocou o debate pelo espetáculo. A política deixou de ser ferramenta de transformação coletiva para virar batalha de egos. Ninguém mais quer ser servidor público. Querem se servir de suas funções buscando a “celebridade da indignação”.

Um país não se administra com reels. A dívida pública não é paga com viralização. E não se constrói futuro com ironia em caixa alta. O Brasil continua enfrentando desigualdade crônica, evasão escolar, colapso no sistema de saúde, déficit fiscal, e isso exige mais do que frases que contenham 280 caracteres, e imagens mirabolantes.

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Fazer política de verdade é trabalho de formiguinha: ouvir, negociar, errar e corrigir. É pensar no futuro além do ciclo eleitoral e mais longe que querer estar no próximo trending topic. É ser impopular, às vezes, e, ainda assim, ser reconhecido como necessário.

É claro que as redes sociais não são o vilão. Elas são ferramentas. Amplificam vozes, promovem mobilização, fiscalizam o poder. Mas quando viram o único palco da política, o risco é alto. Elegemos  personagens, e não gestores.

Está na hora de retomar a política como ofício e responsabilidade. De exigir mais do que lacração. Política é feita com “P”, maiúsculo, com coerência, preparo, e compromisso com o bem público. Porque, curtidas não constroem hospitais, e o futuro não se constrói com dancinha.

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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