A cidade histórica de Ouro Preto recebe, até 30 de junho, a 20ª edição do CineOP. A Mostra de Cinema de Ouro Preto tem entrada gratuita e, neste ano, tem como tema “Perservação: A alma do cinema brasileiro”.
O CineOP reúne uma programação intensa e diversa em três espaços principais: o Cine-Praça (Praça Tiradentes), o Cine‑Teatro (Centro de Convenções da UFOP) e o Cine‑Museu (anexo ao Museu da Inconfidência)
Durante os seis dias de atividades acontecem exibições de longas e curtas, debates, oficinas, shows, cortejo da arte, lançamento de livros, homenagens a personalidades importantes para o cinema brasileiro, e muito mais dinâmicas para o público.
Nessa quinta-feira (26/7) a atriz Marisa Orth foi homenageada durante a abertura oficial na praça Tiradentes. Durante a tarde a atriz participou de uma conversa sobre o papel das mulheres no cinema e sobre o universo do humor na televisão acompanhada pela diretora de cinema Anna Muylaerte.
Marisa Orth defende democratização do acesso à cultura
Marisa Orth defendeu a importância de festivais e eventos culturais gratuitos como forma de democratizar o acesso à cultura no Brasil. Segundo ela, ainda há um estigma de que arte e cultura seriam exclusividade de uma elite, o que precisa ser superado.
“A luta eterna da cultura no Brasil em geral é tirar o ranço de que cultura é para gente rica. Cultura é para todo mundo. Tem ainda isso, muito, é muito dividido em classe. O Brasil é má distribuição de renda e má distribuição de cultura. Entende? Aí eu, sou eu para ir no festival. Quem sou eu? Eu não tive estudo, aí eu não vou. Aí piora, né? Que a pessoa já não teve acesso a uma educação bacana e não se acha”, afirmou.
A atriz ainda destacou que esse desafio de inclusão não se limita ao cinema, mas atinge todas as expressões artísticas, incluindo teatro, dança e artes plásticas. Apesar disso, ela avalia que o teatro vive um bom momento após o isolamento social.
“O teatro tá vivendo um momento legal, viu? Porque eu acho que com a pandemia nego entendeu que negócio de presencial é muito louco. É uma palavra nova, repare, ninguém falava presencial. Era meio óbvio, você tá aí, eu tô aqui, normal. Nossa, ele tá lá. Então deu uma valorizada assim no teatro”, diz.
“Mas eu estendo isso que eu falei para todas as manifestações de arte. Artes plásticas, então, meu amigo? O quê? Eu vou numa exposição de artes plásticas, dança. Eu vou no museu. As pessoas acham que museu, artes plásticas, balé, coisa, é coisa de gente rica. Não é”, completou.
Diretora Anna Muylaerte comenta premiações brasileiras no cinema
A diretora de cinema Anna Muylaerte ponderou que o atual reconhecimento internacional do cinema brasileiro, com prêmios como o Oscar de Walter Salles e a Palma de Ouro de direção para Kleber Mendonça Filho, reflete o amadurecimento de cineastas e equipes que constroem suas carreiras há décadas.
“São cineastas maduros, que vêm construindo uma carreira há décadas e estão conseguindo um nível de vigor criativo e técnico das suas equipes também, que estão sendo premiados”, destacou.
Por outro lado, ela alertou que o cenário não é tão positivo para o setor como um todo, principalmente para os pequenos produtores e as produções independentes. Segundo Anna, o momento é de desafios, com o mercado em transformação e impacto direto das plataformas de streaming.
“A gente não está num dos melhores momentos de produção, nem de distribuição, nem de números. Estamos sendo invadidos pelos streamings, que estão mudando as regras de produção, que estão mudando o jogo, e estamos sem regulamentação ainda”, avaliou.
Nesse contexto, Anna ressaltou o papel dos festivais de cinema como espaços fundamentais para manter o setor unido e vivo. “Os festivais têm uma grande importância de juntar as pessoas, de olhar para arquivo, de ter estudiosos, pesquisadores, e também de unir as pessoas. Muitos encontros saem daí, muitas pessoas se conhecem e futuras produções acontecem”, completou, reforçando que esses eventos se tornam ainda mais necessários diante do atual cenário do audiovisual.