O presidente da ACMinas (Associação Comercial e Empresarial de Minas Gerais), Cledorvino Belini, defendeu a necessidade de qualificação da mão de obra, planejamento de longo prazo e reformas estruturais como caminhos para destravar o desenvolvimento econômico de Belo Horizonte e do estado.
Em entrevista à 98 News, nesta terça-feira (1/7), o dirigente ressaltou que, apesar de o cenário atual mostrar indicadores positivos, como a geração de empregos, os desafios ainda são significativos.
“Sem dúvida, aparentemente, nós estamos bem. Mas quando nós falamos que falta mão de obra, é porque nós temos uma transferência de renda muito grande. Quando se fala que nós temos só 6 milhões de desempregados, na minha conta tem 26 milhões de desempregados, porque todos que recebem transferência de renda através do Bolsa Família, poderiam estar empregados. Então esse é o primeiro ponto”, avaliou.
Belini destacou que a falta de qualificação profissional compromete a inserção de milhares de pessoas no mercado de trabalho e defendeu a educação como solução estrutural. “Se você der educação, você não precisa fazer transferência de renda, todo mundo teria emprego. Esse é o ponto básico”, afirmou.
Para o presidente da ACMinas, a qualificação da mão de obra e o fortalecimento do ambiente de negócios não são questões pontuais, mas exigem planejamento de longo prazo, inspirado em exemplos internacionais.
“É importantíssimo termos um programa, nem que seja como a Coreia fez para 30 anos, mas daqui a 30 anos termos realmente um padrão de qualidade de pessoas que possam ser introduzidas no mercado de trabalho atendendo as novas tecnologias que estão vindo dia a dia”, pontuou.
Reforma do Estado e confiança do setor privado
Entre as iniciativas lideradas pela ACMinas, Belini destacou o projeto de reforma institucional e de Estado, que tem mobilizado empresários, especialistas e representantes de diferentes setores. Segundo ele, o objetivo é apresentar propostas concretas para transformar o ambiente de negócios e a estrutura do Estado brasileiro.
“Eu entendo que o projeto revolucionário que nós estamos fazendo é o chamado reforma do Estado brasileiro, onde temos ouvido várias correntes de cientistas, políticos, empresários para que os empresários apresentem soluções para as instituições, para a política que possam transformar o Estado, que possam transformar a nossa cidade de Belo Horizonte”, explicou.
Apesar da iniciativa, o presidente da ACMinas reconhece que há limitações na capacidade atual do sistema político de promover mudanças profundas. “Eu acho que o nosso sistema político está um pouco perdido, mas vai ser o grande trabalho na fase dois: trabalhar as instituições, trabalhar os organismos que possam efetivamente mudar, entender o que o empresariado deseja para termos um Brasil melhor, para termos uma melhor distribuição de renda, que termos um crescimento sustentado no país”, disse.
Para Belini, o grande entrave para o avanço dos negócios atualmente é a instabilidade. “A principal é a confiança. O Brasil é feito de um ciclo chamado zig-zag. Um dia tá lá em cima, no zig, no dia seguinte tá no zag”, afirmou.
Segundo ele, o ambiente de incerteza prejudica o planejamento dos empresários. “O Brasil precisa de mudanças nesse sentido, de entender como que a economia funciona. A sociedade precisa de confiança, uma visão clara do que vai acontecer e que permita a todos os agentes planejarem e hoje não conseguem planejar”, reforçou.
Jornada de trabalho e revitalização do Centro de BH
Questionado sobre a proposta de mudança na jornada de trabalho, Belini avaliou que o debate não deve ser prioridade no momento. “Eu acredito que não é o momento dessa discussão. Mais para a frente, sem dúvida, vamos ter que enfrentá-la”, disse. Para ele, o tema é complexo e precisa considerar não apenas a jornada semanal, mas o total de horas trabalhadas no ano.
“Se você passar a trabalhar 4 dias e descansar 3 dias, você quebra as empresas e consequentemente vai quebrar os trabalhadores”, alertou, citando o exemplo do setor da construção civil. “O comércio, como é que o comércio vai se organizar? O comércio depende também de sábados e domingos”, completou.
Outro ponto abordado foi o projeto de revitalização do centro de Belo Horizonte, que tem mobilizado entidades empresariais e o poder público. Belini defende que a requalificação deve ser acompanhada de ações de segurança e de estímulo ao turismo.
“Além de termos um centro mais seguro, nós podemos atrair turismo, onde que realmente existe um ganha-ganha para o município de Belo Horizonte”, avaliou.
Para o presidente da ACMinas, o sucesso do projeto depende de planejamento de longo prazo e de parcerias com o setor privado. “Tem que ser um planejamento de longo prazo com o que se pretende e o que se quer trazer para Belo Horizonte, para o centro de Belo Horizonte”, defendeu.
Ainda sobre o centro, Belini destacou a necessidade de enfrentar o problema da população em situação de rua. “Esse é o ponto. Dá dó, você passa ali, é triste o que se vê, mas parece que o prefeito tá entusiasmado em dar soluções para esse problema”, finalizou.
Apesar dos desafios, o presidente da ACMinas afirmou que mantém o otimismo em relação ao futuro da cidade e do estado. “Eu sou sempre otimista. Sempre. A Fiat chegou à liderança de mercado porque era otimista. Todo time otimista para frente se faz resultados”, concluiu.