Lula e sua sinfonia desafinada no Congresso

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(Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Há pesquisas que são termômetros. Outras, barômetros. A pesquisa Quaest, divulgada nesta quarta, é sobre as duas coisas: medir o calor e prever a tempestade que ronda o governo Lula no Congresso.

Mais da metade dos deputados federais avalia a relação entre governo e Congresso como negativa. O dado, por si só, já fala alto, mas o que mais chama a atenção é o dado de que 57% acham que a chance de o governo aprovar suas pautas é baixa. Ou seja, o governo fala, mas o Congresso não escuta.

A pesquisa expõe o que Brasília cochicha nos corredores: o governo está em falta com a articulação política. Falta conversa, falta humildade para escutar a base, e sobra a velha e conhecida soberba de quem acha que carisma em palanque substitui voto no plenário.

A economia é o fiel da balança

Mais grave: 64% dos deputados acham que a economia está indo na direção errada. Quando o político, que gosta de uma canetada e de um carguinho, se incomoda com a economia, é sinal de que o cheiro de arroz queimado já saiu da cozinha e chegou à sala. Nunca é tarde para nos lembrarmos do que aconteceu no ocaso do governo Dilma: relações entre poderes deterioradas e a pauta econômica negligenciada.

Por que isso importa? Porque a democracia não é um reinado de decretos. Exige negociação, pragmatismo e, acima de tudo, a capacidade de entender que governar é menos sobre discursos inflamados e mais sobre aprovar leis, rodar a máquina e manter o país minimamente funcional. Um governo que não aprova pautas vê sua capacidade de governar evaporar.

E não é que falte apoio nominal ao governo. O problema é que apoiar no microfone é fácil; votar a favor de pautas desconectadas da realidade, não. Até os que se dizem independentes, o fiel da balança, estão incomodados. E quem conhece o Congresso sabe que o “baixo clero” insatisfeito é quem derruba pauta importante, e o faz sem dó nem piedade.

O recado da Quaest é claro: o governo precisa reorganizar a cozinha política, alinhar discurso com ação e parar de acreditar que simpatia popular resolve embates legislativos. Precisa também oferecer sinais concretos de consistência econômica. Sem isso, os deputados não querem se associar a um projeto que não sabem para onde vai.

Em tempos de polarização rasa, essa pesquisa é um alerta para Lula: ou conserta a sinfonia agora, ou vai reger um Congresso que, em vez de junto, prefere afinar desaforos nos bastidores.

Porque Brasília gosta de discursos inflamados, mas o que vale mesmo são os votos contados. E, no placar do jogo, hoje, o governo está em nítida desvantagem. Usando um jargão do futebol: “Sem definição técnica e tática.”

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Paulo Leite

Sociólogo e jornalista. Colunista dos programas Central 98 e 98 Talks. Apresentador do programa Café com Leite.

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