Há quem pense que a escola seja apenas um prédio de muros baixos, quadras rachadas e crianças correndo pelos corredores. Mas há escolas que já se tornaram trincheiras, onde a aprendizagem disputa espaço com o medo, a violência e a paralisia emocional de quem ensina.
Quando a escola sofre com a violência, o impacto não é só o medo que paralisa o corpo e faz o professor faltar ao trabalho. A violência escolar interrompe aulas, força licenças médicas, gera alta rotatividade entre professores e destrói o ambiente de aprendizagem, que deveria ser o alicerce para quebrar o ciclo de vulnerabilidade.
Números de uma triste realidade
Em matéria do jornal “O Globo”, dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), mostram que um em cada dez professores já presenciou atentados à vida no local onde trabalha. Quatro em cada dez relatam agressões. A depredação, os furtos, o tráfico e os tiroteios, sobretudo nas grandes cidades, são parte do cotidiano escolar de quem deveria estar cuidando de ensinar a ler, escrever e conviver em sociedade.
As escolas mais violentas são justamente aquelas que mais precisam de professores experientes. Mas quem pode, foge. Ficam os jovens profissionais, cheios de vontade, mas sem a vivência necessária para lidar com o ambientes tumultuados, deixando crianças e adolescentes presos à precariedade.
O Conselho Nacional de Educação estuda como garantir que os 200 dias letivos previstos em lei sejam de fato cumpridos, com aprendizagem real. Fala-se em aulas aos sábados, uso de dias de férias, encontros on-line e envio de atividades emergenciais. Mas quem conhece a realidade do chão da escola sabe que é muito difícil imaginar uma criança que passou a noite se protegendo de tiros e abrir um caderno na manhã seguinte como se nada tivesse acontecido.
As estratégias de reforço e recuperação de conteúdo são importantes, mas ainda são insuficientes se o essencial não for assegurado: a integridade física e emocional de professores e alunos. Sem isso, os programas, protocolos e plataformas digitais não passam de paliativos.
A implementação do Programa Escola que Protege é um passo, mas o país precisa de algo maior: um pacto nacional para blindar as escolas da violência e garantir que os professores tenham condições mínimas de trabalho, segurança e estabilidade emocional para exercer seu ofício.
Porque se a escola não é segura, não é escola. E se o Brasil não garante o direito de aprender, está falhando em sua missão mais básica: preparar seus cidadãos para construir um futuro em que a violência não seja o currículo oculto de cada sala de aula.